segunda-feira, junho 16, 2008

Mais depressa se apanha um mentiroso ...

Hoje, no Público, lá vinha um senhor dos serviços secretos usa declarar que o Bush queria apanhar o Bin Laden antes de acabar o mandato. Até aí tudo bem... Cada qual tem as fixações que quer.

Mas eis senão que o homem descai-se e diz: "Se ele (Bush) puder dizer que matou Saddam Hussein e capturou Bin Laden pode argumentar que deixou o mundo mais seguro".

Ou seja cai pela base toda a retórica demo americana (incluindo o porreiro pá) em que nos passaram a vida a dizer que não tinham nada a ver com o enforcamento do Presidente do Iraque. Que aquilo era um problema interno do governo de lá, etc..

Ou seja em que ficamos: quem mandou matar o Presidente Saddam foi o Bush ou o fantoche de Bagdad.

Todos nós sabemos a resposta, mas fica mal a "eles" admitirem-no desta maneira tão foleira...

2 comentários:

  1. MeuCaro José Carlos,
    como prometido, segue o texto integral do poema de Monsaraz. Renovo o pedido de o facultar aAMCV, caso Ele o não tenha.
    Abraço apertado

    No mais, musa, no mais, que a lyra tenho
    Destemperada e a voz enrouquecida,
    E não do canto, mas de ver que venho
    Cantar a gente surda e endurecida;
    O favor com que mais se acende o engenho,
    Não no dá a Patria, não, que está mettida
    No gosto da cubiça, e na rudeza
    D´huma austera, apagada e vil tristeza!
    LVS, CANTO X-EST. CXLV

    I

    Reino de Portugal, cumpram-se os fados,
    Filho de heroes, baqueaste no caminho;
    Vivias mal, por mal dos teus pecados,
    E agora, morres misero e mesquinho.

    II

    Morres depois de muitas amarguras,
    Que tolheram aos poucos a teu vôo,
    Cego de todo, tremulo, ás escuras
    Sob este lindo sol que te criou.

    III

    Sentiu chegar-lhe a hora derradeira
    O meu pobre e tritissimo paiz;
    Já não pode ser nada, embora queira,
    Aquele que foi tudo quanto quiz!

    IV

    Ai! contemplando-o agora, quem não ha-de,
    Sendo devéras portuguez, se o fôr,
    Relembrar com orgulho e com saudade,
    Seu lendario, seu epico valor:

    V

    Reino das lutas contra os moiros, quando
    Se gerou nossa estranha valentia,
    Então a patria em flôr, desabrochando,
    Por terras da moirama florescia.

    VI

    Torneios, vida de armas nos castelos,
    Sortidas, infanções, alcaides-móres,
    Tendo contra os infieis a engrandecê-los
    O presticio ancestral dos seus maiores.

    VII

    Todo o povo cantava, batalhava...
    Tempo de trovadores e de jograes;
    Cruzados libertando a terra escrava,
    Côrtes de amor nos burgos senhoriaes.

    VIII

    De conquistas andava o reino farto,
    Os menestreis floriam no paiz:
    Por sob o elmo e o arnez de Affonso IV,
    A lira provençal de D. Diniz.

    IX

    Ferve no ar a trombeta castelhana,
    Rude voz, que entre lastimas se perde...
    Toldam-se de odio, ao brado que os profana,
    os ceus de Aljubarrota e de Valverde!

    X

    Como absorto no canto da sereia,
    Eis alguem que olha as ondas a sismar...
    E o oceano inteiro, o velho oceano, anceia
    Sob a fascinação daquele olhar!

    XI

    No espirito do povo, reino em fóra,
    Brotam visões, quimeras fugidias,
    Sempre que pelo Azul triunfa a aurora,
    O sol do Oriente escalda as fantasias.

    XII

    Terra audaz de guerrreiros e mareantes,
    Ilhas, lendas, imaginarias rotas...
    Olhae: abatem-se arvores gigantes,
    Vejo em terra crisálidas de frotas.

    XIII

    Seculo XIV. Partem caravelas.
    Prôas lavram as ondas feiticeiras;
    A cruz em brasa ensanguentando as velas,
    Com as chagas de Christo nas bandeiras!

    XIV

    Lá vão, lá veem... temperas antigas,
    Honra e lealdade, houveram-nas por lei;
    Terra de Portugal, não os maldigas,
    Lutaram pela Patria e pelo Rei!

    XV

    Em Cintra, toda a côrte está presente,
    Uma voz os Lusiadas declama,
    No trono, um moço escuta-a febrilmente
    E o coração em sonhos se lhe inflama.

    XVI

    Horas de magua, tudo aguarda Aquele
    Que, embora morto, a morte não consome;
    O Desejado! quando virá Ele?
    Entre o povo murmura-se o seu nome.

    XVII

    Previsões... ilusões... virá um dia,
    Numa manhã saudosa de nevoeiro;
    E esta só esperança as maguas alivia,
    Torna mais resignado o cativeiro.

    XVIII

    Ouvi: rompem clarins, chegou a data
    De restaurar os gladios lusitanos;
    É uma raça de heroes que se resgata,
    Um dia porque anceiaram sessenta anos!

    XIX

    Já veio a nau dos quintos! Maravilha!
    Nas egrejas fulguram os frontaes;
    Oiro, tanto oiro, todo o reino brilha,
    E nunca finda, e chega sempre mais!...

    XX

    Nos conventos o amor profana as celas;
    Muito sensualismo que enebria...
    Parte em berlinda El Rei para Odivellas,
    Freiras vêm recebê-lo á portaria...

    XXI

    Agora a terra treme, cresce a ruina,
    Convulso chora o solo portuguez,
    Mas a Patria não morrerá, domina-a
    O dogmatico gesto do Marquez!

    XXII

    Santa e gloriosa patria! Estas montanhas
    Quebram o vôo das aguias napoleonicas;
    O tempo dos Francezes! Ó façanhas
    Dignas de figurar nas velhas cronicas!

    XXIII

    Entre o buxo, cá fóra, sombras, beijos...
    Lá dentro a côrte hierática reluz...
    Param coches, preparam-se gracejos,
    Acha-se em festa o paço de Queluz.

    XXIV

    Archotes inflamando a noite escura,
    Aclamações! é D. Miguel que passa;
    Encarna aquela enérgica figura
    Toda a messianica ilusão da raça.

    XXV

    Mas no exilio a saudade não se estanca,
    A ideia nova infiltra-se, caminha,
    Arvora-se a bandeira azul e branca...
    Viva a Constituição! Viva a Rainha!

    XXVI

    Tudo passou: as glorias, as quimeras,
    Esta terra por outra se trocou!
    Ruiram visões, perderam-se galeras,
    Não temos nada já, tudo passou!...

    XXVII

    Soluçam oito seculos de historia
    Sobre a campa do velho Portugal
    Patria dos Reis, patria da Lenda, chore-a
    A verdadeira alma nacional!

    XXVIII

    De noite ainda ha visões... abrem-se portas,
    Sombras passam ao luar a passos lentos,
    Gentes que já viveram, vidas mortas,
    Povoam os solares e os conventos...

    XXIX

    Visões, visões somente!... do passado,
    Da edade de oiro, que nos resta?... o quê?
    Um ou outro mosteiro abandonado,
    Legendas gastas, que ninguém já lê!

    XXX

    Raça degenerada, almas agréstes,
    Onde ides? Quem vos leva? não sabeis;
    Dizei-me, portuguezes, que fizestes
    Do amor tradicional dos vossos Reis?

    XXXI

    Sou filho modestissimo do povo,
    Tradições, não as tenho no meu lar;
    Mas como eu me revolto e me comovo,
    Ao ver todo um passado a desabar!

    XXXII

    Nação de bravos, terra de aventuras,
    Morta ao peso de maguas infinitas;
    Nome do meu paiz, já não fulguras...
    Valente coração, já não palpitas...

    XXXIII

    Dispersam-se esquadrões, quebram-se lanças,
    É o principio tragico do fim.
    Vão-se na aurora as ultimas esperança,
    Com os ultimos toques de clarim!...

    XXXIV

    Ó desditosa Patria minha amada,
    Epopeia do Povo e da Realeza,
    Não tens Reis, não tens Povo, não tens nada...
    Quebrou-se o encanto, Patria portugueza!

    Outubro de 1910

    ResponderEliminar
  2. Caríssimo:

    Nem calcula o prazer com que o vou levar, e sei bem o prazer que ele vai ter quando o ler

    Bem Haja

    José Carlos

    ResponderEliminar