Já li atentamente o livro de Riccardo Marchi. Não me parece nada mal, antes pelo contrário. Teve boas fontes (nalguns casos aponta uma fonte quando a informação proveio de outra, mas tudo bem). Fez trabalho de casa, e intenso.
É omisso nalguns períodos principalmente nos poucos meses que antecederam o 25 do 4 e a preparação dos nacionalistas para o que estava para acontecer. Também se calhar ninguém esteve na disposição de lhe revelar os detalhes. Está muito ligado ao pós 25 e às lutas que se seguiram. A coisas que a maior parte dos intervenientes acha que ainda é cedo para contar. Enfim, há muitas pessoas vivas e em situação insuspeita. E etc...
Também é bastante omisso nas lutas sociais e sindicais do Jovem Portugal. Mais uma vez culpa nossa.
Li também com prazer o artigo de Jaime Nogueira Pinto no Jornal I:
"Império, Nação, Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)", de Riccardo Marchi, abre uma janela sobre uma terra quase incógnita da nossa história próxima. Marchi nasceu em Pádua, em 1974. E por isso é um alien nesta paisagem, que vem olhar e contar. Mas trouxe cânones analíticos que faltam à intelectualidade indígena, que, seguindo a vulgata antifascista, arrumou indiscriminadamente todas estas "direitas" em "fascistas", "reaccionários", "extrema-direita" - os "maus" ou "vilões" da história.
A hegemonia política da esquerda há trinta e cinco anos faz com que as categorias políticas de esquerda e extrema-esquerda sejam estudadas e debatidas com algum rigor. Mas persiste a amálgama conceptual na área da direita, que, salvo raras excepções, ainda é contada pela esquerda.
Daí o mérito do livro de Marchi, que, além de estabelecer as distinções requeridas, procurou conhecer o pensamento, o sentimento e a história desta área. A galáxia aqui contada teve revistas, jornais, editoras - Tempo Presente, Combate, Via Latina, O Ataque, Política, Cidadela; teve movimentos de juventude - como o Jovem Portugal, nacional-revolucionário, fundado pelo Zarco Moniz Ferreira; ou a FEN - Frente dos Estudantes Nacionalistas - mais salazarista; teve clubes de pensamento e reflexão, e até um grupo de teatro - A Oficina. Teve escritores, académicos, intelectuais, jornalistas, militantes, estudantes, combatentes; fez panfletos, furou greves, resistiu nas faculdades da década de 1965-74 à hegemonia de controlo do movimento associativo. E foi, em 1974-75, de onde veio a única resistência à descolonização.
Conheço bem esta história; fiz parte dela. Dos que lá estivemos, uns voltaram à política depois de 1976, como o Francisco Lucas Pires e o José Miguel Júdice, outros continuaram no combate cultural, outros desistiram, alguns morreram.
Nestes movimentos estiveram conservadores, tradicionalistas, monárquicos, salazaristas, nacionalistas, nacionalistas-revolucionários, fascistas. A trilogia nação, império, revolução pode servir- -lhes de denominador: a nação e o império - e a ideia de transformar o império em nação - foram símbolos e valores de todos e estiveram na origem da vinda da maioria para a acção política. Já a revolução foi atributo dos que então se distanciaram do Estado Novo e buscaram inspiração em movimentos do passado, como o fascismo revolucionário de 1920 ou o falangismo de José António. Era a sua terceira via.
Éramos assim. Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época e, bem longe dos estereótipos de senhoritos reaccionários ou de caceteiros do regime, pensámos e lutámos por ideais de integração nacional e justiça social. Que hoje podem parecer utópicos, mas na época nos surgiram como a alternativa ao que estava e àquilo que vinha.
Jaime Nogueira Pinto
E um artigo que veio de um camisa vieja (da altura, claro). Do fundador da célula do Jovem Portugal no Liceu D. Manuel II, no Porto, e do militante activo no período descrito. Algumas vantagens teve o Jaime. Não rachou no pós 25, quando outros, como Lucas Pires declaravam alto e bom som terem sido sempre democratas... E etc. que não estou para dizer muito mais.
E fiquei muito contente quando vi o Duarte Branquinho dizer que nem todos abandonaram a luta, e que ele próprio conhecia alguns deles. Também eu, meu caro, também eu.
De todas as maneiras estou a coligir todos os pequenos detalhes com os quais ou discordo ou mesmo que podem ter esclarecimentos adicionais. E prometo que os vou escrever aqui neste espaço.
De todas as formas livro imprescindível e a ler.
É omisso nalguns períodos principalmente nos poucos meses que antecederam o 25 do 4 e a preparação dos nacionalistas para o que estava para acontecer. Também se calhar ninguém esteve na disposição de lhe revelar os detalhes. Está muito ligado ao pós 25 e às lutas que se seguiram. A coisas que a maior parte dos intervenientes acha que ainda é cedo para contar. Enfim, há muitas pessoas vivas e em situação insuspeita. E etc...
Também é bastante omisso nas lutas sociais e sindicais do Jovem Portugal. Mais uma vez culpa nossa.
Li também com prazer o artigo de Jaime Nogueira Pinto no Jornal I:
"Império, Nação, Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)", de Riccardo Marchi, abre uma janela sobre uma terra quase incógnita da nossa história próxima. Marchi nasceu em Pádua, em 1974. E por isso é um alien nesta paisagem, que vem olhar e contar. Mas trouxe cânones analíticos que faltam à intelectualidade indígena, que, seguindo a vulgata antifascista, arrumou indiscriminadamente todas estas "direitas" em "fascistas", "reaccionários", "extrema-direita" - os "maus" ou "vilões" da história.
A hegemonia política da esquerda há trinta e cinco anos faz com que as categorias políticas de esquerda e extrema-esquerda sejam estudadas e debatidas com algum rigor. Mas persiste a amálgama conceptual na área da direita, que, salvo raras excepções, ainda é contada pela esquerda.
Daí o mérito do livro de Marchi, que, além de estabelecer as distinções requeridas, procurou conhecer o pensamento, o sentimento e a história desta área. A galáxia aqui contada teve revistas, jornais, editoras - Tempo Presente, Combate, Via Latina, O Ataque, Política, Cidadela; teve movimentos de juventude - como o Jovem Portugal, nacional-revolucionário, fundado pelo Zarco Moniz Ferreira; ou a FEN - Frente dos Estudantes Nacionalistas - mais salazarista; teve clubes de pensamento e reflexão, e até um grupo de teatro - A Oficina. Teve escritores, académicos, intelectuais, jornalistas, militantes, estudantes, combatentes; fez panfletos, furou greves, resistiu nas faculdades da década de 1965-74 à hegemonia de controlo do movimento associativo. E foi, em 1974-75, de onde veio a única resistência à descolonização.
Conheço bem esta história; fiz parte dela. Dos que lá estivemos, uns voltaram à política depois de 1976, como o Francisco Lucas Pires e o José Miguel Júdice, outros continuaram no combate cultural, outros desistiram, alguns morreram.
Nestes movimentos estiveram conservadores, tradicionalistas, monárquicos, salazaristas, nacionalistas, nacionalistas-revolucionários, fascistas. A trilogia nação, império, revolução pode servir- -lhes de denominador: a nação e o império - e a ideia de transformar o império em nação - foram símbolos e valores de todos e estiveram na origem da vinda da maioria para a acção política. Já a revolução foi atributo dos que então se distanciaram do Estado Novo e buscaram inspiração em movimentos do passado, como o fascismo revolucionário de 1920 ou o falangismo de José António. Era a sua terceira via.
Éramos assim. Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época e, bem longe dos estereótipos de senhoritos reaccionários ou de caceteiros do regime, pensámos e lutámos por ideais de integração nacional e justiça social. Que hoje podem parecer utópicos, mas na época nos surgiram como a alternativa ao que estava e àquilo que vinha.
Jaime Nogueira Pinto
E um artigo que veio de um camisa vieja (da altura, claro). Do fundador da célula do Jovem Portugal no Liceu D. Manuel II, no Porto, e do militante activo no período descrito. Algumas vantagens teve o Jaime. Não rachou no pós 25, quando outros, como Lucas Pires declaravam alto e bom som terem sido sempre democratas... E etc. que não estou para dizer muito mais.
E fiquei muito contente quando vi o Duarte Branquinho dizer que nem todos abandonaram a luta, e que ele próprio conhecia alguns deles. Também eu, meu caro, também eu.
De todas as maneiras estou a coligir todos os pequenos detalhes com os quais ou discordo ou mesmo que podem ter esclarecimentos adicionais. E prometo que os vou escrever aqui neste espaço.
De todas as formas livro imprescindível e a ler.
4 comentários:
Editado o livro do Riccardo, ficam a faltar as Memórias do José Carlos ;)
Por acaso, terminei hoje a leitura do «Império, Nação, Revolução». É um livro espectacular, especialmente para alguém como eu, que desconhecia grande parte da "história das direitas radicais". Tudo o que sabia eram peças soltas que apanhava aqui e ali e procurava juntar. Através do livro pude reunir muitas pontas soltas, fazer algumas descobertas surpreendentes e obter um retrato global da evolução desta área política.
Além disso, julgo ter reconhecido algumas caras nas fotografias. Especialmente num certo retrato de um encontro do Movimento Vanguardista. Estarei errado?
Abraço e bom ano!
Lá está não estás errado. E também na foto do JP (na garagem sede) também lá está este teu Amigo, de costas. Aliás lembro-me bem desse dia.
Uma coisa que eu não disse sobre o artigo do Jaime. A sua afirmação sobre a presença da nossa gente na luta pós 25 do 4 foi determinante. Aliás preparada desde Outubro de 1973. Só que o MFA sem o saber - ou melhor sem perceber a dinâmica - abarbatou - no meio da sua loucura de prisões a metro - muita gente importante. Mas não foi por causa disso que não houve um combate sério. E se não fossem umas pessoas
que eu cá sei o resultado teria sido muito diferente. Aliás o livro Capitão de Abril, Capitão de Novembro do Cap. Castro explica muitas coisas.
Mas a vida é o que é e não o que poderia ter sido.
Abraço e bom ano
Este livro vem finalmente preencher uma lacuna. Foi realmente preciso um "alien", como lhe chama JNP, para fazer um trabalho isento. Ainda bem. Sigam-se outros.
O Miguel Vaz lançou muito bem a dica: As Memórias do José Carlos - sempre de pé entre as ruínas.
Grande abraço.
Bom dia,
Qual é o livro mais isento (nao esquerdista) e sério que recomenda sobre a Revoluçao do 25 de Abril?
Muito obrigrado,
Um luso-descendente de França.
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