A visita (há cerca de mês e meio) a um Amigo doente permitiu-me recordar uma famosa discussão tida (nos arredores de Toledo) com elementos do interior, numa altura em que alguns de nós penávamos no exílio.
O cerne da discussão tinha tudo a ver com a experiência que alguns de nós tínhamos tido nas nossas ligações juvenis à OAS francesa.
(Nota: para os mais novos a OAS foi uma organização politico militar francesa que combateu por uma Argélia francesa contra De Gaulle e sus muchachos. Foi também o embrião de um movimento verdadeiramente revolucionário na França e na Europa – acabada de apanhar pelas ventas com a sua menoridade nas crises de 1957, que revelaram o verdadeiro papel que os vencedores de 1945 – os USA – nos tinham destinado). Só acabou depois de largas centenas de mortos (alguns executados oficialmente – outros assassinados pelos “barbouzes”(a) e ainda outros – (a larga maioria) presa ou exilada)
Toda a discussão tinha a ver com as consequências politicas da luta armada que então decorria em Portugal. Alguns militares estavam connosco na análise que fazíamos que para além da luta anti-comunista pura e dura, deveríamos (em simultâneo) criar uma ossatura ideológica que permitisse propiciar as condições de instauração de uma nova ordem politica e social no Portugal pós Abril.
(Aliás, mais não fazíamos que imitar o MFA que necessitou dessa ossatura e foi buscá-la onde existia – ao PC. Porque o 25 do 4 foi feito para acabar com a maçada da guerra, correr com Marcelo e também contra os oficiais superiores que lhes barravam a progressão nas carreiras. O erro dos “mfaiosos” foi não terem entendido isso. Pensavam que correndo com os generais tudo era fácil. Esqueceram-se, contudo dos Coronéis e restantes oficiais superiores – e foi aí que (quase) se “lixaram”...)
Se foi fácil convencer alguns Oficiais do Quadro e alguns dos militantes mais empenhados no combate, vimo-nos, contudo, enfrentados por um certo número de “velhotes”, quase todos filhos do Estado Novo, que declararam comprometer-se apenas na luta armada (como simples apoiantes – que também na situação que se vivia poderiam ter a sua importancia) ou “meramente de esclarecimento”(?) – tout court – sem quaisquer veleidades politicas. Mário Soares e Sá Carneiro que governassem! Assim mesmo. E que os “americanos” só nos ajudariam se assim fosse. Ora, bem retorquíamos que dos “americanos” não tínhamos qualquer apoio, nem sequer contávamos com eles, mas os nossos opositores não desarmavam.
A certa altura da discussão um dos nossos opositores (dos mais jovens entre a velhada) voltou-se para o Rodrigo Emílio e contestando a “lembrança” do nosso Rodrigo sobre o fim da OAS provocada pela eliminação de Leroy, afirmou que o que estava em causa era a contenção do desastre e não uma nova revolução.
Como é óbvio a discussão terminou ali. Cada qual foi à sua vida. Os “velhos do Restelo” foram, como é óbvio, para o MDLP. Os outros continuaram a sua vida tal como delineado.
E nem de propósito, não é que passado tão pouco tempo, venho a encontrar ontem – nas minhas deambulações pelos blogues franceses um recordatório de Leroy. Por nada de especial, só por um dever de memoria a um Homem excepcional. E a uma situação excepcional.
Mas para a sua compreensão tenho de escrever mais sobre quem foi Leroy e como se comprometeu a luta de tanta gente em nome dos interesses pessoais e políticos de alguns. Isto é uma constante da(s) “nossa(s)” história(s) e convém recordar estes pequenos factos que podem encerrar lições para o futuro. É apenas por isso que acho que vale a pena relatar estas “coisas” envoltas em misérias morais e de politiquices reles em que, infelizmente, também me vi envolvido (à força, claro).
É uma lição de estratégia politica numa situação de tensão. Acho importante passar as experiências que vivemos e/ou as que estudámos (profundamente) para que numa situação futura os mais jovens possam ter ensinamentos do passado (mesmo que os que as viveram já estejam demasiado velhos ou mortos para sequer serem ouvidos).
Apostilha:
(a) Barbouzes foi o nome dado a um grupo de homens ligados a De Gaulle e que incluía antigos resistentes gaulistas, membros dos serviços secretos, policias, gente ligada às máfias criminosas de Marselha e até antigos auxiliares franceses que a Gestapo recrutou no "milieu" e mais tarde perdoados por De Gaulle a fim de o ajudarem nos trabalhos sujos. Esses elementos matavam, raptavam e torturavam os membros da OAS e militantes nacionalistas à margem das leis da república. Foram os responsáveis da morte de cerca de 450 elementos. Também sofreram muitas mortes. A título de exemplo, dos 300 que foram para Argel mais de 100 foram abatidos pelos Comandos Delta. A sua coroa de glória foi o rapto do Coronel Argoud na Alemanha. Nunca nenhum deles foi condenado...
1 comentário:
Por PORTUGAL agradecemos estes pedaços de História que nos devem servir de Lição, Memória e Caminho.
Afinal, ainda somos ALGUNS
Obrigado, caro Manlius...e venham mais memórias de toda a nossa vivência Nacionalista
RS
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