quinta-feira, outubro 28, 2010

Actual, actualíssimo... e do século XIX



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem
para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença
geral,
escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Perguntas de algibeira


Mas o orça - minto passa ou não?
Sempre a maldita dúvida!
Vem o FMI já hoje ou para o mês que vem?

Apostilha: Por informação privilegiada tive conhecimento que o Zé Campos e Sousa musicou recentemente - muito recentemente - um belo Poema do nosso Rodrigo Emílio. Sim, aquele sobre o FMI.
Premonitório!

Regressei para já, mas ...

Roubei a outrem este pensamento:

"avisaram-me e confirmei. Um idiota, mais um, mete-me em guerras alheias. Já é azar. Logo eu, que mudo de passeio mal vejo um idiota no horizonte."

Não sei porquê, mas aplica-se a uma situação recente em que me quiseram meter ...