sábado, fevereiro 06, 2010

Sempre a fitar o Futuro - 6 de Fevereiro


ANDAMENTO ELEGÍACO EM LOUVOR E MEMÓRIA
DE ROBERT BRASILLACH

Fuzilado, em Montrouge,
aos 6 de Fevereiro de 1945


I

Quando Deus quer e decreta
que, num painel de massacre,
impere a voz d’um poeta
como Robert Brasillach,

não se espere
ouvir trombeta
mais afecta
a Joana d’Arc.

(Em que pese ao seu poder
de de dentro se acender
em poemas de combate
— nem sequer Apollinaire
liberta chama ou sotaque
que ao pé de nós ponha a arder
canto assim — que tudo abarque).

II

Deixai-me que eu chore ou cante,
e mais um 6 de Fevereiro,
o poeta enfeitiçante
que do mártir d’Alicante
foi irmão e companheiro.

Seu destino lancinante,
seu roteiro rutilante,
sua sorte e paradeiro:
— Deixai, deixai que eu os cante
em mais um 6 de Fevereiro!

Quero, durante um instante
passageiro e... incessante,
exumar do meu tinteiro
o exangue semblante
desse límpido e galante
mosqueteiro

— afinal, tão semelhante
(em tudo, tão semelhante)
àquele arcanjo arquejante
que, num pátio d’Alicante
prisioneiro,

doou à luz do Levante
o seu olhar derradeiro
e às falanges da Falange
o seu sangue de guerreiro.

Quero deter-me, um instante,
aos pés do 6 de Fevereiro;
e ao poeta militante,
implorar que se alevante,
outra vez, de corpo inteiro,
por sobre o seu cativante
cativeiro!

III

Quando Deus quer
que se gere,
na moldura d’um massacre,
uma voz que reine e impere
e um canto que tudo abarque,



ou convoca Apollinaire
(e através d’Apollinaire
desfere um grito que fere...)
, ou nem mesmo Apollinaire
— e sim Robert
Brasillach!

IV

(Não pode ser senão seu
o perfil
mais-que-perfeito,
que esta noite se acendeu
ao peitoril
do meu peito...)

V

Vão-no encostar
contra o muro.
(— ...E ele, a fitar
o futuro...

Sempre a fitar
o futuro...)

— ‘Inda haverá
quem o chame,
e o dê por visto e achado,
do outro lado de lá
de tanto arame
farpado?!...

VI

Não. Dê lá por onde der,
não se vê que possa haver
porta-voz, porta-estandarte,
que ao pé de nós ponha a arder
canto assim — que tudo abarque!

VII

Já, d’abalada, o carrasco
é qual piloto que o guia
pela Estrada de Damasco,
rumo ao Horto da Agonia!

(Há-de o poeta ‘star morto,
ao raiar da luz do dia...)

VIII

Abram alas! Abram alas!
Reparai como resiste!
Ei-lo, à cabeça do rol:
— peito às balas,
rosto em riste,
cara al sol!...

IX

Se o céu confia e confere
qualquer destino ou destaque
às baladas d’aluguer
d’um ou outro Baudelaire
mais ou menos d’almanaque,
quando a gente mal espere,
o grito que Deus desfere,
— fere-o Robert
Brasillach!

Rodrigo Emílio

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de passar silenciosamente por aqui!

josé carlos disse...

Também eu gostei que tivesse passado por aqui, e gostei francamente de passar no seu blogue. Voltarei, com todo o prazer.