Há uns tempos perdi no mesmo dia dois Camaradas. Duas personalidades e militâncias totalmente diferentes.
Recordo aqui o Fanam. Combatente na frente de Angola e na frente da Metrópole. Deu muito e penou bastante por ter sido leal às suas ideias.
Recordo aqui a sua última conversa comigo quando já estava certo da inevitabilidade da morte.
No essencial a sua preocupação era a da morte de Portugal. Achava que Portugal estava completamente perdido para a vida humana. A fraqueza da natalidade de portugueses era a causa essencial dessa derrota esperada. E logo ele pai de seis filhos!
O caos instalado na sociedade era o resultado da ausência de três factores essenciais à sobrevivência da raça humana: a falta de filhos, a ausência total de autoridade e a ausência de uma moral pública.
Dizia-me ele: Portugal morreu. E foi a marcelice e tudo o que se seguiu que o matou. A minha geração que viveu a adolescência na primavera marcelista acordou uma manhã e descobriu que lhe tinham escondido que a sua verdadeira mãe já tinha morrido e que quem lá estava em casa era a "madrasta"
Estamos condenados a viver na esperança do renascimento de um novo Portugal em que possamos dar livre curso à nossa identidade cultural, sem submissões às modices e aos politicamente correctos.
Nada mais temos senão os nossos sonhos e as nossas esperanças."
Pois é Fanam, tu (e havia camaradas que te chamavam bronco e primário pelos teus poucos estudos e pelo teu estrato social de origem) sabias mais do que esses doutores da mula russa que por aí pululam. Quando foi preciso lutar lutaste. Quando foi preciso educar os teus filhos soubeste fazê-lo.
Nunca darão o teu nome a uma rua ou a uma ponte. Nunca constarás de qualquer livro de história. Mas história fizeste-a tu. Com honra e fidelidade. E com muito, mas mesmo muito, saber desse povo transmontano de onde vieste.
Até sempre e sempre Presente, Fanam
Sem comentários:
Enviar um comentário