quarta-feira, fevereiro 27, 2008

A crise sindical e o que se descobre pelo caminho…

Desde há vários dias que pretendo falar do ocorrido no congresso da CGTP, em particular e do mundo do trabalho em geral.

A aparente (e para mim – à data – incompreensível) cilindragem de Carvalho da Silva na TV após a última (chamada) Greve Geral, levou-me na altura a meditar muito fortemente sobre o sindicalismo, o trabalho, a pessoa humana, enfim, um encadear de ideias que pretendi amadurecer para posteriormente delas falar.

Ainda não é o tempo. No entanto o Congresso foi muito revelador da força do PC dentro da CGTP, empalmando a maioria dos lugares (mais de 75%). As tendências socialista e (principalmente) bloquista foram completamente esmagadas. Carvalho da Silva não foi impunemente destruído – em directo – nas TVs. Fez parte de um plano – estou seguro. Está a prazo. E o que é mais grave é que os próprios sindicatos não aprendem. Continuam ligados aos chavões novecentistas da luta de classes, etc.

E os desafios hoje são totalmente diferentes.

Há hoje em dia um factor novo que é condicionante de tudo o que ocorre no mundo do trabalho (no chamado mundo ocidental) e na vida das pessoas. A viciação provocada pela nova droga dura da actualidade – o consumismo.

O centro da vida da civilização ocidental – provocada pelas luzes (única reminiscência por eles aceite na cultura europeia) é a do individualismo, a ideia de que todos os seres humanos dão unidades iguais com os correspondentes direitos iguais, simplesmente porque são indivíduos. Ou seja a uma standartização do ser humano.

É dada à vida um valor definitivo (quantificável em euros ou Dollars) e fixando-se este atributo, a quantidade fica a única variável da equação da felicidade da sociedade. Tudo o resto não conta. (e o meu estimado leitor conhece os seus vizinhos? Os seus problemas? Como se podem entre ajudar?...)

Já vimos que os laços entre as pessoas estão completamente quebrados (era essencial que tal acontecesse para conseguir a sociedade individualista – o Doutor António José de Brito não se tem poupado a teorizar sobre o personalismo da actual sociedade e o transpersonalismo que deveria reger toda a nossa vida). Ora essa realidade tem também a ver com a vida do trabalho. Tudo no trabalho está ligado apenas a uma coisa: o dinheiro. E como poderia ser de outro modo? Uma multidão de individualidades (ou unidades de trabalho) afastadas das suas raízes e deixadas isoladas num mar de desespero.

Esta sociedade é baseada num indivíduo abstracto. Ou seja há um compromisso para todos os envolvidos. Estandartizado, normalizado, regulamentado. Dia após dia, é em oito horas diárias que comprometemos a nossa busca da liberdade, vivendo de sonhos e do inatingível (euromilionários, ou semelhantes, alienado pelo circo futebolístico, ou semelhante)

Para poder controlar toda esta massa de indivíduos e torná-la eficiente é necessário uma uniformização de horários, de tempos livres e funcionar rigidamente como um relógio suíço. E tudo para poder comprar (um direito dos tais – dos adquiridos). É por isso que hipotecamos a nossa liberdade, transformando-nos em meros escravos do materialismo, incapazes de viver e não meramente vegetar.

Ou seja já me estou a esticar muito mais do que queria. Um postal sobre a CGTP e onde ele já vai.

Bem vou acabar. Mas antes já ouço uma pergunta: Então como é que isto se muda. Está tão enraizado nos indivíduos e na sociedade?

Bem a resposta tem a ver com uma análise simples. Como chegámos aqui? Através do progresso tecnológico, com a concomitante mudança dos nossos hábitos.

Pode ser que algum cataclismo ecológico, crise energética ou causa nuclear altere tudo. Mas não podemos apenas confiar na “sorte”. Já se demonstrou no século XX haver soluções que partindo de uma forte vontade colectiva e com um comando que saiba o que quer para a sociedade tudo se pode alterar. Compete-nos a nós preparar essa mudança.

Com cabeça. Com vontade. Com perseverança. Para que não tenhamos de voltar a descobrir as alegrias de umas nuvens no céu, após uma seca, o valor de umas amoras colhidas nas veredas, a alegria da pesca ou da caça.

Quase que me apetecia dizer que seria preferível a esta prestação de serviços (a maioria desnecessários, e só existentes para justificar uma circulação ficcional de dinheiro) uns aos outros a que nos condenaram.

1 comentário:

Waco disse...

Boas ideias.