terça-feira, janeiro 08, 2008
Nova Antologia Poética Portuguesa (enquanto eles nos deixam)...
Dedicada a S. Macário, o Lambedor Oficial de Cinzeiros deste Reino reinadio ...
O BOS deu o sinal de partida inserindo umas versalhadas sobre os novos talibans.
Outros se lhe seguiram.
Já dá para começar uma antologia.
E então vamos a isto:
Podia escolher a sida,
um acidente de carro
ou um gesto suicida
— mas escolhi o cigarro.
Felizes os seres humanos
que buscam ares respiráveis
— vivem para aí uns mil anos
e depois morrem saudáveis.
Na minha campa, sem prantos,
afixem esta inscrição:
«Aqui jaz o Bruno Santos:
dois cancros, um por pulmão.
Do bercinho ao ataúde,
só fumou e só tossiu.
Raios partam a saúde
mais a puta que a pariu».
Bruno O Santos
Já Tomás de Oliveira Marques foi mais prolixo:
E na sua série SG escolhi os seguintes:
Lambi ontem um cinzeiro inteiro
E hoje uma mulher que fuma
A vida com carácter e espírito
(Ninguém neste mundo é perfeito);
Ainda por cima, por debaixo
Era já beata, boa como o milho.
Sinceramente, face a Auschwitz,
O cinzeiro até nem soube mal.
Quanto à fumadora, fui logo a correr
À tabacaria, porque aceso ficou
O desejo do seu sabor a arder
Em mim, o costume em espirais de fumo.
Moral da história:
Na arte de bem oscular
Tanto o divino como a escória
Dever-se-á com critério atentar
Na mucosa que oscula por si
Em relação aos outros, modelar;
NUNCA, nunca ao que paira no ar.
P.S. A propósito do adágio bíblico
Lamber um cinzeiro
é o mesmo que beijar
uma mulher que fuma.
E se for homem, o fumador?
Vá, diga lá, S. Macário
Seu misógeno ou então .........
De qualquer modo, um lusitano
De cepa e verdadeiro.
Fumar faz mal à saúde
E todos temos com o diabo lutar
Por uma velhice longa, afastada
Da mínima atenção e carinho
A que estamos mal habituados.
Por isso, deixe lá esse cigarro,
Que se lixe, já que estamos lixados.
O Estado saberá de outros impostos,
De tratar como deve nossa saúde,
Suavemente, na arte de magoar.
Uma coisa é certa: viveremos
Mais tempo e com menos espaço
Para neste mundo termos lugar
Ao que nos é querido e solitário.
Quanto à Segurança Social, “no deficit”:
A reforma virá um mês antes de zarpar.
Nos campos da Holanda
Lobriguei a beatitude
Especada p’ró céu a olhar
O vazio cheio de saúde
A pôr o Diabo a fugir
Das mandíbulas a pingar
Lenta, a baba do porvir
Da esquerda para a direita
Da direita para a esquerda
Na tenra eternidade a marcar
As milhentas vacas no sorrir
Não sei de quê? talvez de maleita
Vencida sem sensação de perda
Na nobre função de engordar.
Uma coisa nas vacas reparei:
Nem uma só estava a fumar.
P.S: Em tributo a “Passos em volta”, de Herberto Hélder.
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