terça-feira, junho 26, 2007

Karl Wissemann - III



Em 27 de Outubro de 1962, José O' Neill decidiu que era a altura de compartilhar com os seus leitores do "Agora" as suas memórias de Wissemann. Publica-a na 1ª página, na sua habitual rubrica "Dentro do Café Avis" (seu "quartel general" onde os mais jovens ouviam maravilhados os grandes vultos nacionalistas que lá se deslocavam diariamente).

Nesse artigo do "Agora" O’Neill conta-nos a história real da génese do livro e das suas relações com Wissemann. (é óbvio que omitindo bastante).

Não a reproduzo em virtude de ser legível a imagem, desde que aumentada. Recomendo contudo a sua leitura.

Anos mais tarde (1963/64/65?) tive oportunidade de ouvir O’Neill no Avis contar muitos mais pormenores de todo este drama. É pois essas recordações (que ainda restam) que quero partilhar com os meus estimados leitores.

Karl Wissemann e Nasenstein (oficial do Exército alemão que também estava em Lisboa) esconderam-se no final da guerra no Alentejo na quinta de Fernando Campos (e por vezes vinham a Lisboa ficando também na sua casa de Lisboa). Aí viveram uns meses tentando arranjar documentos que lhes permitissem seguir os seus destinos. Sem problemas de maior visto as pessoas que conheciam a sua localização eram muito poucas e (pareciam) de total confiança. Até ao aparecimento dos artigos na Nação não tiveram problemas de maior. Dado o brado criado pela publicação – relembra-se que era o primeiro trabalho de fôlego sobre Nuremberga a aparecer em todo o mundo (ou seja o primeiro livro revisionista da história do século XX) – a situação alterou-se. Às policias e serviços secretos foi fácil descobrir quem se escondia por detrás do pseudónimo de João das Regras. Tinha de se tratar de alguém com fortes conhecimentos de direito, conhecedor profundo do interior do IIIº Reich e que sabia escrever. Ou seja só podia ser Wissemann.

Estava traçado o seu destino.

E aqui há duas versões sobre a traição que levou à morte de Wissemann. Para alguns (O’Neill incluído) a traição foi de uma pessoa a que chamaremos S. para outros (nomeadamente Amândio César, que, não nos esqueçamos, foi um fiel camarada de Pimenta) teria sido P. As razões aduzidas por ambos os lados têm lógica. Contudo nunca se saberá de certeza absoluta qual dos dois foi o traidor. Em postal posterior voltarei a este assunto com todas as informações de que disponho.

A verdade foi que a PIDE (juntamente com os serviços secretos ingleses) se deslocaram ao Alentejo para os prender. Avisados a tempo saíram do seu local de refúgio. O’Neill sugeriu a ambos que se refugiassem numa das casas de uma das herdades de sua sogra, com possibilidades de rotação entre diversas quintas e herdades de camaradas dispostos a correrem riscos (em Portugal e Espanha - as herdades eram bem perto da fronteira) . Os alemães não aceitaram dado que o seu tipo físico despertaria as atenções das GNR locais por qualquer parte do Alentejo onde se escondessem.

Resolveram vir para Lisboa onde lhes foram arranjados documentos falsos polacos (?). (e aí aparecem quer P quer S). Simultaneamente dois alemães (há muito residentes em Portugal) deslocaram-se para o Alentejo onde percorreram diversas zonas e casas de modo a chamar a atenção das policias para outras zonas.

No entanto poucos dias depois de se albergarem numa pobre pensão de Lisboa os ingleses apareceram para os prender.

Wissemann pediu para ir à casa de banho buscar os seus parcos pertences. Foi autorizado. Nessa altura suicida-se cortando as veias de forma irreversível com a lâmina de barbear. Nasenstein (já algemado) tenta atirar-se pela janela. Foi, contudo, agarrado a tempo, o que inibiu o seu fim. Foi logo transportado para a Alemanha onde muito penou. Desconhece-se o seu fim.

A comoção em Lisboa pela morte de Wissemann foi enorme. Não nos esqueçamos que naquela altura o catolicismo era muito importante em Portugal e condenava fortemente o suicídio. Até Salazar foi metido ao barulho.

Após a autopsia realizou-se o seu funeral para o Cemitério dos Alemães, e em que – apesar de tudo – houve uma cerimónia religiosa . Algumas pessoas acompanharam-no até à sua última morada. Também alguns alemães da colónia alemã de Lisboa se incorporaram no féretro. Alfredo Pimenta disse umas palavras de homenagem ao grande alemão e grande nacional socialista que tinha morrido porque achava que (mesmo derrotado) tinha a obrigação de continuar a sua luta com a pena, já que lhe tinham tirado a espada.

Se tivesse optado por ficar calado teria sobrevivido e continuado a viver, disseram alguns na altura.

Mas essa não é a posição de um Homem. Fiel até à morte. A nossa Honra é a nossa Fidelidade. Foi por essa verdade que Wissemann morreu.

Em próximos postais vou voltar a este tema.

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