terça-feira, junho 05, 2007

A propósito de "racismo" ...

Aquando do julgamento do MAN escrevi um pequeno texto sobre os racismos, racialismos e outros ismos. Publiquei-o mas pouca gente lhe ligou. Resolvi, portanto, não voltar ao assunto.

Mas o que se passou com Marcelino da Mata, tal como anos antes se tinha passado com o Dr. Pinheiro da Silva, (português também ele de elevada categoria) a quem tentaram achincalhar numa conferência promovida pelo Miguel Castelo Branco e a Nova Monarquia, levou-me a escrever o que de seguido vão ter oportunidade de ler.

Não vou ser tão bruto (nem nada do que se pareça) como o fui nessa altura. Aliás reli o que tinha escrito e verifiquei (com um certo espanto) que o texto ainda estava mais actual do que na época.

Vou hoje por um caminho diferente. Li este fim de semana um delicioso livro de um "preto" francês.

Vale a pena comentá-lo. É só isso que eu vou fazer. Para acabar para sempre com os racismos brancos e pretos contra indivíduos que têm outra cor. É certo que só o racismo anti preto é condenado. O outro (para os nossos procuradores e polícias) não o é - "eles" lá saberão porquê!

(nota demasiado a propósito:

vale a pena ler um artigo do actual presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, publicado em 1974 - Para uma leitura ideológica da jurisprudência do STJ - "qualquer julgador deixará sempre ... o ferrete da sua ideologia cravada diafanamente no conteúdo de algumas das suas decisões"
... "a marca pessoal do julgador e a chancela da sua ideologia poderão ficar siglados para sempre na sentença que assinou; mas isso é o preço pago pelo facto de ninguém ser neutro" (sic)

Mas voltemos ao livro. Intitula-se "Eu sou negro e não gosto de mandioca". O seu autor Gaston Kelman vive há 20 anos em França e analisa de uma forma muito lúcida a questão de integração de cidadãos de outras proveniências num determinado país, bebendo a sua cultura, o seu espírito, a sua tradição, ou seja integrando-se plenamente. Deixaram a cultura do país de origem e não cairam na tentação de importar os "tiques" dos "pretos suburbanos" (a quem todos devem e eles não devem nada a ninguém) apresentado pelo cinema e telediscos americanos. Assumiram a cultura do país hospedeiro. Ou seja: têm cultura e não apenas "tiques" (e não dependem dos sos racismos e quejandos).

Veja-se o capítulo 7 - Sou negro e não tenho orgulho nisso

"Esta necessidade que o preto tem de provar que é um ser humano, encontramo-la já em certos percursores dos pais da negritude, essa corrente literária negra e francófona (minha nota Senghor e Franz Fanon) que se insurgia contra o colonialismo e o imperialismo do branco sobre o negro e que levaria à tomada de consciência do lugar do preto no seio da raça humana."

"Então eu digo que as proclamações do "orgulho" em ser preto - o mesmo para o "orgulho" dos homosexuais - fazem-me mal aos ouvidos, aborrecem-me e fico triste"

"Na boca de um negro o grito "tenho orgulho" equivale a dizer "Não tenho vergonha". é como se ouvirmos alguém dizer:
"tenho orgulho de ser pobre, doente e deficiente".

Bem leiam o livro que é delicioso.

Mas o que é que isto tem a ver com o racismo perguntarão os leitores.

Tudo, absolutamente tudo. É óbvio e eu concordo plenamente que uma comunidade tem a sua própria identidade, cultura, tradição e - também - a sua herança genética bem marcada.

Mas a pertença a essa comunidade é bi unívoca. Tem de se receber e tem de se dar!

Mesmo com a identidade, cultura, genética, etc., o que nós vemos é que os membros da comunidade portuguesa são hoje altamente minoritários no espaço territorial português. Menos de 10%, seguramente! E com uma percentagem de "brancos" na casa dos 80%. Ou seja para se ser português não basta cá ter nascido e ser filho de pais e avós portugueses (ou ser branco...). É necessário muito mais. è necessário um espírito dadivoso de pertença, de sacrifício e de doação.

E é aí que entra o nosso Marcelino da Mata. Todo ele respira portugalidade. Lutou, como voluntário, por um espírito e uma missão de portugueses, assumiu, desde muito jovem a sua pertença. Sem se preocupar se era branco ou preto. Se tinha ou não tinha vergonha (ou orgulho) de ser preto. Ele demonstrou de forma absoluta (pela acção e pelo verbo) de quem era filho. Era filho de Portugal e como tal defendeu-o até ao limite das suas forças.

Um dos comentários que li sobre Marcelino da Mata afirmava que "é pela lei da nacionalidade que se vê a ideologia de cada um".

Pois eu dou uma sugestão a quem tiver de fazer propostas sobre a Lei da Nacionalidade:

"que todos aqueles que se bateram nas tropas voluntárias (comandos, paraquedistas, GEP, Flechas, Fuzos - bem como todos os militares de incorporação normal e local e que tenham recebido, pelo menos a Cruz de Guerra de 3ª classe) sejam automaticamente eleitos para adquirirem a nacionalidade portuguesa.

É o mínimo que se pode fazer por aqueles que lutaram por um Portugal do Minho a Timor!

2 comentários:

Humberto Nuno de Oliveira disse...

Como sempre caro "presidente" estiveste muito bem.
Subscrevo. Só acho mal a 3ª classe eu chegava mesmo á cruz de Guerra de 4ª classe ou mesmo aos Serviços distintos com palma.
Um abraço

Waco disse...

A nacionalidade não se compra - portanto também não se vende, nem sequer com desconto -, herda-se.
Já as formalidades dos louvores, medalhas, e condecorações são como pechinchinas; baratas e distribui-se com fartura. É simplex e tem estado na moda e tudo. É pedir uma cunha ao nacionalista Cavaco, através do seu pupilo nacionalista P.T.Pinto, nesta próxima celebração do dia do Portugal - de todos nós, os habitantes deste planeta, por onde tiver passado uma Nau.