«Pelo amor de Deus, senhores! Um pequeno esforço!
Às vezes, não apetece comer, mas quem se entregar ao fastio, e não comer nada, acontece-lhe como ao burro do inglês... e morre.
Às vezes é preciso fazer ginástica ou qualquer exercício para não emperrar, para desenvolver a resistência, para defender de amolecimentos e franzinices e banhas...
Pelo amor de Deus, senhores! Não deixem o cérebro ficar lisinho como triste massa espalmada! Não deixem ficar a cabeça oca!
Pelo amor de Deus! Lembrem-se de que o Criador lhes doou uma inteligência para pensar, reflectir, assimilar e enriquecer!
Fora com a preguiça mental! Fora com a pressa! Demorem um bocadinho: e apliquem-se! Leiam aquelas coisas que talvez lhe custem, mas são boas e necessárias! Cultivem-se, doutrinem-se, aprendam as razões da vossa fé para não acontecer que um dia acabem outros por atraídos e levá-la ao engano, pois ela se invertebrou em simples boa-fé...
«Nem só de pão vive o homem», senhores! O homem não vive só para as questões do dia-a-dia, para os problemas concretos, para as coisas da vidinha.
Só lhes interessa o caso imediato? A História pessoal? O escândalo guloso? O que lhes toca mesmo pela porta? A pílula fácil de engolir? O bom-bom que se derrete sem mastigar?
Oh! Oh! Meus senhores, que vergonha! Querer, apenas, assuntos de encher o olho, mas que se lêem com o rabo do olho, ao subir para o eléctrico ou ao dobrar a esquina! Qualquer dia acabam a ler só histórias aos quadradinhos ou anedotas!
Correis ao chamativo! Como o touro, vejam lá, que marra no vermelho, cor muito viva! Com esse apetite de deslizar sem incómodo, com essa procura de fácil vida, ficais tão parecidos com as mulheres de vida fácil...
Respeitem-se mais um bocadinho! Os senhores valem bem um esforço de concentração e aplicação. Leiam também o difícil, leiam um ou outro artigo longo, leiam a doutrina. Iremos perder o gosto da leitura? Acabaremos por reduzir-nos a público de cartazes ou de bombas jornalísticas?
Demorem-se na doutrina! Leiam, releiam, estudem, comentem-na e discutem-na com os amigos! Ainda lhes tomam o gosto, verão! É como a cerveja: começa por ser amarga, mas depois...
As direitas não são estúpidas, não podem ser estúpidas! Ser umas bestas ou bestificar-nos contradiz a dignidade humana para que fomos feitos.
Pelo amor de Deus, senhores! Ao menos, uma hora por semana, exercitem a inteligência! Combinado?»
Goulart Nogueira, in Agora – n.º 340, pág. 12, 20.01.1968.
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