Cordeiro de alvorada, em seu cabelo,
Adormecido, nítido, encostado
À testa de montanha lisa e gelo.
O gelo se desfaz, de manso, em neve
No mar do rosto, com corais na face,
Corais na boca entreaberta e leve,
E tomba, em gotículas de orvalho,
Nos ombros torneados e brilhantes,
Qual folha nova a despontar do galho.
Nos olhos, e esperando um prado extenso,
Duas gazelas líquidas e azuis
Fingem o acenar branco dum lenço.
Um lenço, pelo corpo a desfolhar-se
Em rosas-chá, em mármore e em quentura,
No púbis, nuvem de oiro, vai dobrar-se.
Aquela juventude ainda é pura.
Quem tem a manhã na fronte
E relâmpagos na mão imperial,
Que tem na boca límpida uma fonte
E dois robles no porte de imortal,
Com sua imagem de águia à terra desce
E rouba o pastor grácil que adolesce.
Pastor humano, hoje é pastor divino.
Loiro,
Loiro e belo rapaz maravilhoso,
Elbelto como um hino,
Tão pleno como um arco impetuoso,
Em suas mãos de Via-Láctea
Serve aos deuses a Vida e o alimento,
Licor de luz e de rubis doirados.
E as suas mãos de Via-Láctea
São o perfume e o vento
Do seu corpo de valados.
Paisagem branda ao sol nascente,
Um olhar dele o representa.
É sempre belo e adolescente:
Aos próprios deuses alimenta.
E porque tem, como a cereja,
Formas alegres e completas,
Tal como Zeus lhe quer e o beija,
Amam-no todos os Poetas.
Távola Redonda, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 3ª SÉRIE, PAG. 453
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