segunda-feira, abril 14, 2008

Nós Continuaremos ...

Hoje li um comentário/resposta de um pretenso salazarista a uma “provocação” de João V. Claro sobre Marcelo (sim o das greves...)

Sei muito bem da alta capacidade de resposta e de argumentação daquele que (debaixo do - mais que honroso - pseudónimo de quem vê bem claro) recordou no “Salazar – Obreiro da Pátria” os textos por mim publicados sobre a Marcelírica. O que ele vai responder (se tiver pachorra e vontade) vai arrasar o plumitivo admirador da marcelagem.

No entanto dei comigo a pensar se valeria a pena eu meter-me no barulho. E como sempre quando tenho dúvidas consulto o oráculo do costume – o muito nosso Rodrigo Emílio.

E ele estou certo concordou com a minha tomada de decisão. Não vale a pena gastar cera com tão ruim defunto. Camões disse-o de forma exemplar “ O fraco Rei ...” e Charlote Corday antes de subir ao cadafalso também ela foi exemplar sobre a demissão e fraquezas reais. Marcelo não passará à História, será apenas um asterisco. Um triste e apagado asterisco cuja única recordação será a de quem propiciou o fim histórico de Portugal. A ele e à sua “entourage” se deve o descalabro! Ponto final.

Apostilha:

Esta conversa com o Rodrigo fez-me bem. Passados 4 anos sobre a sua desaparição física ainda hoje continuo com pensamentos “rodriguísticos”. Cada dia que passa mais o compreendo, mais o estimo, mais o estudo.

Hoje, sei-o, Rodrigo sempre frequentou os espaços desconhecidos do espírito humano, espaços em que a lucidez e o génio estão lado a lado com o “desmedido gesto” mais selvagem. Um espírito de um príncipe da verdadeira noite (aquela que precede sempre o amanhecer).

Blondin, Verlaine, Nimier ou ainda Céline (alguns dos seus irmãos mais dedicados); as canetas mais insolentes e aceradas da literatura e da poesia. Autores de obras marcadas por uma estética e uma ética levadas ao extremo, mas acompanhadas de uma busca incessante de vertigem, de velocidade de uma “embriaguês” do coração do mundo moderno, e cuja escrita lhes serve de veículo. Estes são os escritores malditos, que o “sistema” cala e omite.

Mas essa maldição Rodrigo sempre aceitou. Para ele Cultura, Tradição, Modernismo, Frescura e Impertinência eram essenciais à sua forma de ser e estar no mundo. Nimier, outro maldito morreu jovem ao volante de um poderoso carro, transgredindo (transgredindo sempre) os limites de velocidade impostos pelos “republicanos regulamentos de velocidade”. Drieu (ainda outro) despediu-se deste mar de lágrimas num gesto voluntário de sacrifício perante o fétido mundo que o esperava. Rodrigo ignorou sinais e sintomas e partiu – também ele voluntário (como sempre) – em direcção ao panteão dos Príncipes da Noite.

Hoje, já não existe Aristocracia Literária viva. O reino de hoje é dos saramagos...

2ª Apostilha



Quero recordar as palavras de Arno Breker que conta a sua despedida de Céline, aquando o visitou pela última vez em Meudon: “Quando estava de saída, Céline disse-me: Isto não é um Adeus, nós os dois continuaremos”. Cingindo-lhe fortemente a mão disse-lhe emocionado: Assim seja, meu caro e grande Amigo”

1 comentário:

Anónimo disse...

Numa das suas últimas entrevistas , à questão de como encarava a morte (que na verdade se aproximava a passos largos), Céline respondeu: «com alívio».