terça-feira, abril 29, 2008

Omissões

Leitor atento chamou-me a atenção sobre a minha omissão de botar faladura sobre o Cónego Melo.

Aceito a farpa, merecida é certo.

Mas poderia desculpar-me dizendo que este mês foi mau a nível profissional e patati patatá (verdade nua e crua).

Mas não foi só por isso. A mesma razão que me levou a não falar sobre o Cónego Melo foi semelhante ao tempo de meditação que a mim próprio me impus aquando da morte de João Coito.

Tenho dificuldades, por vezes, de falar de algumas pessoas, coisas ou situações.

Mas não há nada como uma provocação para nos impor uma reflexão.

O Cónego Melo - e digo-o com toda a sinceridade - foi um Homem imprescindível num período crítico da História de Portugal. E foi também um Homem Providencial.

Lidei com ele apenas e só após a vergonhosa campanha feita para o tentarem associar ao assassinato de um tal Max (ao que consta foi sacerdote). Os caminhos percorridos na resistência a Moscovo e Washington foram diversos. O Cónego Melo, mercê do seu carisma e capacidade de trabalho - e uma extraordinária lealdade ao seu Bispo - conseguiu "liderar" uma revolta popular no Norte, muito semelhante à revolta contra os afrancesados da 1ª invasão napoleónica.

Honra lhe seja dada. Mas também inibiu e impediu um outro tipo de resistência mais complexa que se desenhava na altura. Acho que a ele se lhe deve o "regime" que actualmente nos governa. Certo estou que não estariam na sua mente as consequências da sua actuação. Preferiu (à portuguesinha...) uma "coisa comezinha, sem grandes estardalhaços" a uma autêntica luta contra os invasores.

Foi sincero. Acreditava nisso. Foi para todos os efeitos um Homem Bom. Um Patriota. Um Homem da Igreja. Leal, Prudente, Corajoso.

Quem lhe conheceu o pensamento e a acção só o pode considerar um Homem de Bem.

Paz à sua Alma, e que os que - ainda hoje - o acusam de tantas malfeitorias metam a mão na consciência e vejam que se cá estão a ele o devem...

3 comentários:

Joaquim M.ª Cymbron disse...

Muito bom este «in memoriam».

Duas passagens me chamaram particularmente a atenção:

1- «(...) conseguiu 'liderar' uma revolta popular no Norte, muito semelhante à revolta contra os afrancesados da 1.ª invasão napoleónica.»

2-«Mas também inibiu e impediu um outro tipo de resistência mais complexa que se desenhava na altura.»

Gostei muito da primeira passagem; da segunda, não tanto, porque tendo eu, de 1977 para 1978, passado quase um ano, em Braga, conheci alguma coisa daquele meio e fiquei com a convicção muito profunda de que a reacção nacional foi efectivamente travada por quem estava dentro dela.

A quem cabe essa responsabilidade? --- Creio que a várias figuras. Se o cónego Melo está nesse grupo, isso é deplorável. Daí, o meu desgosto!

josé carlos disse...

Acho que esqueci de colocar o "também ele".

As razões, como sabe, foram muito mais profundas. O Cónego Melo - imbuído do seu espírito fortemente cristão (e se calhar por influências superiores) - deu um forte contributo a uma travagem verificada. Não o critico por isso. Muita gente "altamente colocada" estava interessada nessa travagem.

Continuo, contudo, um profundo admirador da sua acção, da sua sabedoria, da sua bondade. Daí a minha revolta contra a tentativa de linchamento que lhe fizeram - e a outros - aquando da tentativa de o implicarem na morte de um membro da udp.

Anónimo disse...

Bravo!