Meu Caro Rodrigo Emílio
Neste momento em que escrevo fazem (quase ao minuto) exactamente 5 anos (cinco longos anos) do momento em que tive de me despedir de ti.
Cinco anos de intenso sentimento de falta. De luto carregado.
Se ainda cá estivesses para nos ajudar a viver estes dias de fim terias 65 anos. Pela burocracia cá do burgo, estarias na idade da Reforma.
Reformado? Tu? Bahhh…
Reformar-te a ti? Quem conseguiria. Ninguém. Nunca foste reformável. Nunca – por todo o nunca – “eles” conseguiram reformar-te. Mesmo quando tentaram meter-te em tantos tipos de “reformatórios”.
Mas agora mais a sério: a falta que nos faz o teu espírito lúcido neste momento de fim de idade histórica que estamos a viver, sem que a maioria destes “portugueses do portugalito cee” – transvestidos de metecos - sequer se aperceba disso.
Notaste, decerto, que nem assinalei o teu aniversário - os teus 65. Mas tu sabes as minhas limitações e como a vida por vezes nos prega partidas bem grandes e nos deixa exauridos e incapazes de alinhar duas palavras seguidas e palavras que – ao menos - tenham nexo e sentido.
Este projecto bloguista em que me meti (também por tua causa) está cada vez mais pelas ruas da amargura.
Mas hoje não consigo dizer-te nada de novo ou especial. Mas se a minha verve acabou (ou pelo menos anquilosou) socorro-me de Fernando Pessoa para me dar o mote para o que quero dizer, e assim sei que não falho.
Escolhi este poema de Pessoa que tu bem gostavas. E que se aplica – como uma luva – áquilo que te quero dizer e áquilo que quero celebrar – também a tua imortalidade. Estás de pleno direito no Panteão dos Poetas de Portugal. Agora que a Pátria se acabou – sendo apenas tempos de saldo de fim de estação (ou devo dizer desde já - Rebajas) o que estamos a viver – os vossos dois nomes estarão sempre presentes no Imaginário e na Alma dos que sobrarem e que tenham no futuro o sonho de reconstruir e refundar Portugal. IN OMNIA SAECULA SAECULORUM.
Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.(1)
Quero para mim o espírito (d)esta frase,
Transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
Ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
Ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
O propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça
Apostilha: (1) É uma frase de Pompeu (106 – 48 AC) dito aos marinheiros amedrontados, que se recusavam a fazer-se ao mar durante a guerra (Plutarco, vida de Pompeu)
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