Acordei esta noite num estado de agitação enorme. Suores frios, tremuras, sei lá.
O que foi, o que foi?
Pois a verdade é que tendo-me deitado cansado do trabalho, mas sem preocupações, o que teria levado a este estado em que me encontrava.
Cedo percebi. Pois eu estava preocupado com os meus livros. Não com aqueles que me foram roubados, mas sim com aqueles que eu ainda tinha. Sim porque desde as imagens televisivas da apreensão dos livros aos "nazis" que o meu inconsciente me dizia: "cuidado que se eles virem a tua biblioteca é certo e sabido que vais dentro - ai vais, vais".
Corri para os livros. Para os que sobraram. Passeio-os um a um. Nada de grave. Eram livros de arte, de fotografia, alguns de história religiosa e de religiões. Uns quantos de Sociologia e Ciência Política. Um ou outro de poesia. Confirma-se nada de grave.
Voltei a deitar-me. Mas não consegui dormir. Algo me dizia: vai ver bem outra vez.
Fui e fiquei em pânico. Desta vez é que vou dentro!!!
E querem saber porquê, eu passo a explicar.
Peguei num livro de poesia do Cesariny e imaginei-me face a um daqueles colossos culturais que se aboletam no "combate ao banditismo" e aos seus brilhantes raciocínios: "bem é de um tal cesariny, o nome é italiano, a Itália era a terra do fascismo, o gajo que lê isto é nazi, engavetem-no". Bem, pensei eu, o livro do Cesariny vai para o ecoponto. Peguei noutro. Este de história de arte. Sobre a pintura da Escola do Porto. "Escola do Porto. Terra do Pinto da Costa, das claques de futebol. Os nazis estão infiltrados nas claques, o gajo é nazi, engavetem-no". Isto não me pode estar a acontecer, pensei eu. Tem calma que as coisas não podem ser tão más. Vejamos outro livro (este é de fotografia do Newton). Aqui não há problema! Folheei-o. Pronto lá estou eu outra vez feito. O livro tem fotos de nús e é um culto ao corpo. "este tipo de culto surgiu com os nazis, o gajo é nazi, engavetem-no". Peguei noutro era sobre Portugal e Concílio de Trento. Aqui é que não pode haver problemas, pensei eu na minha boa fé. "qual quê, o concílio de trento foi contra a reforma, logo é pela revolução, confirma-se o gajo é nazi, engavetem-no". E foi assim a noite toda. Qualquer livro em que eu pegasse, lá ia eu engavetado.
Tomei a decisão. Amanhã de manhã todos estes livros, mas absolutamente todos vão para o ecoponto. Assim estou salvo!
Mas alto aí. Se os combatentes ao banditismo vem cá casa e descobrem que eu não tenho nem sequer um livrinho, estou feito! "se não tem livros é um inculto, um básico, logo é nazi, engavetem-no".
Bem já em pânico decidi acalmar-me para ter capacidade de raciocínio. Até que cheguei à solução. Deito todos os livros fora compro um do Saramago e eles assim já não me engavetam. "isso é o que tu querias, então um gajo que lê saramago é de certeza masoquista lá daqueles do sado-masoquismo, que se vestem de cabedal e roupas nazis. como é óbvio o gajo é nazi. engaventem-no"
Pois este é o meu drama. Ajudem-me, digam-me o que devo fazer, eu já não sei.
E olhem quando me forem ver à cadeia não me levem nenhum livro, se faz favor!
O que foi, o que foi?
Pois a verdade é que tendo-me deitado cansado do trabalho, mas sem preocupações, o que teria levado a este estado em que me encontrava.
Cedo percebi. Pois eu estava preocupado com os meus livros. Não com aqueles que me foram roubados, mas sim com aqueles que eu ainda tinha. Sim porque desde as imagens televisivas da apreensão dos livros aos "nazis" que o meu inconsciente me dizia: "cuidado que se eles virem a tua biblioteca é certo e sabido que vais dentro - ai vais, vais".
Corri para os livros. Para os que sobraram. Passeio-os um a um. Nada de grave. Eram livros de arte, de fotografia, alguns de história religiosa e de religiões. Uns quantos de Sociologia e Ciência Política. Um ou outro de poesia. Confirma-se nada de grave.
Voltei a deitar-me. Mas não consegui dormir. Algo me dizia: vai ver bem outra vez.
Fui e fiquei em pânico. Desta vez é que vou dentro!!!
E querem saber porquê, eu passo a explicar.
Peguei num livro de poesia do Cesariny e imaginei-me face a um daqueles colossos culturais que se aboletam no "combate ao banditismo" e aos seus brilhantes raciocínios: "bem é de um tal cesariny, o nome é italiano, a Itália era a terra do fascismo, o gajo que lê isto é nazi, engavetem-no". Bem, pensei eu, o livro do Cesariny vai para o ecoponto. Peguei noutro. Este de história de arte. Sobre a pintura da Escola do Porto. "Escola do Porto. Terra do Pinto da Costa, das claques de futebol. Os nazis estão infiltrados nas claques, o gajo é nazi, engavetem-no". Isto não me pode estar a acontecer, pensei eu. Tem calma que as coisas não podem ser tão más. Vejamos outro livro (este é de fotografia do Newton). Aqui não há problema! Folheei-o. Pronto lá estou eu outra vez feito. O livro tem fotos de nús e é um culto ao corpo. "este tipo de culto surgiu com os nazis, o gajo é nazi, engavetem-no". Peguei noutro era sobre Portugal e Concílio de Trento. Aqui é que não pode haver problemas, pensei eu na minha boa fé. "qual quê, o concílio de trento foi contra a reforma, logo é pela revolução, confirma-se o gajo é nazi, engavetem-no". E foi assim a noite toda. Qualquer livro em que eu pegasse, lá ia eu engavetado.
Tomei a decisão. Amanhã de manhã todos estes livros, mas absolutamente todos vão para o ecoponto. Assim estou salvo!
Mas alto aí. Se os combatentes ao banditismo vem cá casa e descobrem que eu não tenho nem sequer um livrinho, estou feito! "se não tem livros é um inculto, um básico, logo é nazi, engavetem-no".
Bem já em pânico decidi acalmar-me para ter capacidade de raciocínio. Até que cheguei à solução. Deito todos os livros fora compro um do Saramago e eles assim já não me engavetam. "isso é o que tu querias, então um gajo que lê saramago é de certeza masoquista lá daqueles do sado-masoquismo, que se vestem de cabedal e roupas nazis. como é óbvio o gajo é nazi. engaventem-no"
Pois este é o meu drama. Ajudem-me, digam-me o que devo fazer, eu já não sei.
E olhem quando me forem ver à cadeia não me levem nenhum livro, se faz favor!
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