Olá meu caro A.
Como prometi vou-te responder por escrito. Dei a minha palavra que o faria e eu nunca falto à palavra dada.
Increpaste-me por, no passado dia 18, ter glosado e gozado com a data do 25 do 4, relembrado à saciadade e à sociedade duas verdades pouco conhecidas. A saber: nessa data comemora-se o dia internacional do radio amador e o dia do contabilista.
Danado, ficaste danado, via-se na tua cara. Tu um homem de abril (como gostas de te auto intitular). E a revolução dos cravos?
Tu sabes bem o que nos separa (quase tudo) e o que nos une (um profunda aceitação das opções ideológicas de cada um). Para ti é um dia de alegria - (desculpa aí, mas agora vou ser mauzinho). Nunca nos teus e meus verdes anos sonhaste chegar onde estás. Ao 25 o deves. Ainda em tempos me disseste que agora bebias Barca Velha. Ao teu partido e à loja o deves como também reconheces. São opções de vida. Eu não bebo Barca Velha e não tenho pena.
Para mim é um dia de tristeza e de dor, de muita dor. Todos os anos choro os meus mortos e os hectolitros e hectolitros de sangue derramado na "revolução sem sangue" (como muito bem dizia o nosso inesquecível Rodrigo Emílio). No dia 26 ou 27 (não me lembro bem) disse-te que o que tu estavas todo contente a festejar era o fim de Portugal. Riste-te, lembro-me bem, hoje, contudo dás-me razão.
Como posso eu (ou qualquer verdadeiro português) celebrar em festa um dia de morte - de Portugal e de tantos e tantos portugueses?
Um dia, já distante é certo, quando te confrontei detalhadamente com a horrível sorte de tantos portugueses assassinados no pós 25, disseste-me "eram pretos, que se lixe". Nunca me viste tão bruto (acho eu). Hoje por hoje deves estar a pensar: se os anti bandidos sabem, quem vai de cana por racismo sou eu. E em boa verdade te digo, neste caso, era bem feito. Todos eles (os que enfrentaram ou o fuzilamento ou uma morte bem mais horrorosa por terem sido portugueses) merecem bem mais do que a nossa revolta. Merecem a nossa profunda e sentida homenagem. Também eles merecem ter entrado na Wahala. Merecem estar lá para me acolherem como acolheram o Rodrigo Emílio. Fraternamente, como se acolhe um Irmão de sangue.
Mas fugi já ao tema. A tua danação pelo gozo do "contabilista" e do "radio amador" (a propósito dia 25 também é dia da onu...)
Nesse meu postal desejei profundamente que provassem o mesmo veneno que vocês destilam. Como pensam que nós - os Portugueses - nos sentimos no dia 1º de Dezembro (dia da Restauração da Independência) quando os vossos medias ou mídias (ou lá o que é) e os vossos políticos, autarcas, ministros e Silvas, nos passam o dia a dizer que é o dia da sida. Sida de manhã, sida de tarde, sida à noite!!!
Pois é bebam e comam os contabilistas de manhã, contabilistas à tarde e (para desenjoar) os rádio amadores à noite!!!
Provem do vosso veneno e vejam que é bem indigesto!
PS: (no teu caso é bem escolhido) Publico este postal hoje porque amanhã estarei em respeitoso silêncio, relembrando o cabo Ali e os seus homens linchados por serem tão ou mais portugueses do que eu. Como vos recordo; como recordo o que aprendi convosco!
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