sábado, abril 28, 2007

A marcelírica

Pois hoje deu-me para o Goulart. Pena foi que não tivesse sido antes e com o destaque que ele merece. Infelizmente a doença venceu-o. E logo ele que ia sempre à luta.
Mas hoje quero fazer um apelo. E importante (para mim e para a história)
Como alguns sabem, nas mesas do Café Aviz, ali nos Restauradores e no edifício do Cinema Eden, Goulart Nogueira e Tomaz de Figueiredo reuniam-se nos idos de 69/70, executando maravilhosamente (a 4 mãos) um canto em forma de poema que deu brado na Lisboa de então.
Refiro-me à marcelírica, justa "homenagem" que estes dois vultos prestavam à "marchuetagem" marcelista que fazia a sua passagem pelo poder.
(não vem a propósito, mas quero recordar uma "boutade" de Manuel Maria Múrias no dia 28 de Setembro de 1974 quando acabadinho de ser preso pelos copcães deu de caras com alguns marcelistas da nossa praça que também tinham sido engavetados. A conversa passa-se em Caxias (local paradisíaco em que tantos dos meus leitores passaram uns tempinhos, nanja eu...): "Então muitos parabéns" disse Múrias para o César Moreira Baptista e outros da mesma laia. "Parabéns porquê?" retorquiram os Silvas e Baptistas. "Parabéns porque faz hoje anos que vocês tomaram conta desta merda!". Risos entre os nacionalistas presos. Esgares nos marcelistas. Cai o pano!)
Pois o meu apelo é simples. Como deverão saber naquela altura os poemas eram escritos alternadamente - estrofe a estrofe - por Tomaz de Figueiredo e Goulart Nogueira. Rodrigo Emílio passava-os à máquina de escrever. Algumas cópias eram distribuídas por outros camaradas que por sua vez os rescreviam à máquina com 4/5 cópias e assim sucessivamente.
(eu também dei muito ao dedo na velha Royal que havia lá em casa...).
Pois o que sucedeu é que nem nos papéis do Goulart se encontra actualmente uma cópia dessa saga. A única cópia que eu conheço encontra-se entre os documentos do Rodrigo Emílio no meio dos "milhões" de papéis dele.
Penso que seria um serviço público notável alguém que tenha uma das centenas de cópias -feitas com o método acima indicado - nos possa disponibilizar essa joia da literatura de escárnio e maldizar desses vultos da Cultura.
Ou publiquem-na na Net para que todos tenham acesso a ela e tenham o gáudio que eu tive quando a li e reli.
Bem hajam, antecipadamente.
PS (salvo seja): também não vem a propósito. Mas já que estou em maré memoralista não
quero deixar de recordar a refeição de Goulart Nogueira e dos camaradas que iam presos na camioneta dos copcães no dia 28 de Setembro: a refeição foi a agenda de capa dura com muitos e muitos nomes que Goulart resolveu comer a fim de evitar que mais umas centenas de camaradas fossem bafejados com a sorte de uma estadia de férias na localidade balnear de Caxias... E olhem que foi toda, capa incluída...

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