Voltemos ao livro. E à sua tradução. Como calculam Wissemann não dominava o português para escrever na nossa língua os artigos que deram origem ao livro.
Lembro-me de ter perguntado a O’ Neill quem tinha sido o autor da tradução. Na altura o director da “Nação” referiu não se lembrar concretamente mas que lhe parecia ter sido obra de duas Senhoras do Porto, Maria O. e Maria Augusta M.
Aceitei de imediato como verdadeira a informação, fruto dos meus verdes anos.
No entanto e passados uns anos e meditando um pouco mais no assunto pareceu-me uma informação pouco consistente. E porquê?
Estávamos nos anos 46, em que ainda se sentiam algumas das dificuldades logísticas dos anos do racionamento provocado pela guerra.
Lisboa – Porto – Lisboa era uma viagem de longo, longuíssimo curso. O próprio comboio levava quase uma eternidade a percorrer os 300 quilómetros que separavam as duas cidades.
O carteamento tinha óbvias dificuldades dada o “controlo” policial e que poderia comprometer bastante as pessoas.
Pareceu-me pois que a tradução teria origem em Lisboa. Nos anos 70 tive oportunidade de falar com Maria Augusta sobre o assunto. O que me informou é que na realidade traduziu (sempre graciosamente) muitas obras de alemão para português durante o período da guerra. A solo e com parceria com Maria O. Daquela tradução especificamente não se lembrava, mas admitia ter sido por si feita, dado que, pelo menos uma vez, teve uma tradução cheia de termos jurídicos e que segundo ela “não lhe tinha saído muito bem”. No entanto diz ter recebido pelo correio e por diversos portadores material para traduzir que logo que pronto e dactilografado era enviado pelos mesmos meios.
Maria O já tinha morrido. Não pude pois esclarecer este ponto. Como achega importante na Biblioteca de Maria Augusta não existia este livro.
Como recordatório importante devo esclarecer que Maria O. era uma cidadã alemã, casada com um português, um vulto cultural do Porto e uma das melhores difusoras da Cultura Alemã e também Portuguesa a partir dos anos trinta. Traduziu “D. Miguel e a sua Época” o que lhe criou muitíssimos amargos de boca. Depois é melhor nem falar... Tive pena do livro sobre a comunidade alemã em Portugal (recentemente saído) não lhe tivesse dado a atenção que ela merecia.
Maria Augusta M. Foi uma das alunas predilectas na Universidade de Coimbra de Paulo Quintela. Também com ele trabalhou no Teatro Universitário Coimbrão. Mulher de grande cultura e com conhecimentos muito profundos da língua e cultura alemã, faleceu nos anos 80.
Uma informação final, a revisão dos termos (técnico – jurídicos) deste trabalho deveu-se, segundo Amândio César, ao Professor Cabral Moncada.
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