Estamos quase a chegar ao fim desta primeira abordagem a este "soldado desconhecido" a que eu dediquei algum do meu tempo (ao longo da vida) para lhe poder dar o relevo que ele sem dúvida tudo fez para merecer.
Hoje vou-vos falar um pouco mais sobre a traição que o levou à morte.
Como já anteriormente tinha contado dois personagens aparecem como potenciais delatores. S. e P..
S. era Capitão do Exército. P. era um Inspector Escolar do Ministério da Educação Nacional. Quando eu nasci para estas coisas já S. tinha falecido. A P. conheci e com ele convivi (pouco, muito pouco, é certo).
Eram ambos dos serviços de segurança da Legião Portuguesa. P. colaborava também no Jornal "A Nação".
Um dia, numa ocasião ( finais dos anos 60) que tive de falar com o Dr. Góis Mota, Secretário Geral da Legião e um dos seus mais destacados militantes (com ele vivo o 25 do 4 nunca teria vingado), pedi-lhe de chofre se podia consultar os arquivos da LP sobre o caso Wissemann. E fiquei surpreendido com a resposta. Disse-me ele: "também eu já desejei ver esses documentos e pedi-os. E eu estou habituado a ser obedecido!). Pois a verdade, segundo ele, é que nada existiria nos arquivos dos serviços de segurança da LP sobre o assunto.
Em finais de 1976, princípios de 1977, após o meu regresso do exílio, encontrei, por acaso, em Campo de Ourique, P. que passeava, já bastante alquebrado pela idade e pela prisão que sofreu.
Falei-lhe e (para meu espanto) recordou-se logo de mim. Fomos para um café da Ferreira Borges onde tivemos oportunidade de falar sobre os mais diversos assuntos. Não deixei de aproveitar a ocasião e começámos a conversar sobre Wissemann.
Segundo a sua versão Wissemann teria sido traído não por ele ou por S. mas sim por algum subalterno da Legião. Razões aduzidas. Foi nos serviços de segurança da LP que os passaportes de Karl e do outro militar alemão foram falsificados. Foi através dele que os documentos chegaram aos alemães. (como, não se lembrava).
A ideia que tinha era que os passaportes não eram polacos como dizia O'Neill, mas sim nórdicos (suecos?, talvez). A única pista que tinha deixado junto dos seus subalternos eram as fotografias sem qualquer identificação. Mas, sem dúvida os seus subordinados teriam ficado com os nomes em que foram forjados os passaportes.
Na altura (e durante muito tempo) as pensões, hotéis e similares tinham de enviar um boletim de dormida de estrangeiros para a PIDE. Se a polícia sabia os nomes dos passaportes falsos e viu os boletins da pensão somou 1+1. Isto era a sua opinião. Aliás a PIDE (e a própria LP) estava bastante infiltrada pelos serviços ingleses.
Foi isso que levou à perda de Wissemann.
Sobre os documentos ou processos sobre o caso no Arquivo LP reconheceu que a terem existido teriam sido destruídos.
E veementemente negou qualquer participação pessoal na traição, apesar de conhecer a lenda negra que o ligava (juntamente com S.) a essa traição.
Segundo ele, a única forma de saber o que se passou, dado todos os intervenientes já estarem mortos, seria a consulta ao processo KW da PIDE. Se lá estivesse o boletim de dormida da pensão não haveria dúvidas.
Também deveriam ser consultados os documentos ingleses sobre a época e o relatório que de certeza foi feito pelos agentes ingleses em Portugal.
E mais, que me recorde, não disse. Despedimo-nos afectuosamente. Agradeceu-me a minha frontalidade e o interesse que manifestava no assunto e pediu-me para ajudar a que este Homem nunca fosse esquecido.
Nunca mais o vi. Pouco tempo depois falecia.
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