No postal anterior coloquei o "famoso cartaz" que o Dr. António Cruz Rodrigues tanto gabou na sua história do MPP.
E prometi que contaria hoje algumas coisas sobre o assunto. É isso que pretendo fazer.
Comecemos pelo princípio.
Os nacionalistas acompanhavam com grande atenção as movimentações dos militares pré - 25. Informação não faltava. Muito sabíamos e estudávamos todas as hipóteses que se colocavam em cima da mesa. Logo o 25 não foi para nós qualquer surpresa. A deriva marxista também não. Estávamos perfeitamente conscientes do que se iria passar e quais as consequências daqueles disparates que se estavam a passar.
Nos primeiros dias de Maio 74 após aquela conversa no Principe Real (com Rodrigo Emílio) que já relatei em postal anterior, foi decidido que eu assumiria umas determinadas funções e competências dentro da causa nacional. Para isso era essencial que eu mantivesse o chamada "baixo perfil". Não poderia desaparecer de todo (o que era muito pouco credível) mas deveria estar ligado a algumas organização "inócua" (no sentido revolucionário do termo) que me fizesse parecer um descrente, um medroso, etc. Ou seja um indivíduo sem ponta de perigo para os mfa.
A ajuda para a decisão surgiu da parte da "primeira infiltração" do sector mais radical dos tropozoários nas nossas fileiras. Dois, três dias depois do 25.
A referida "Mata Hari da treta" era uma espécie de Carolina Salgado da época. A mesma profissão inicial e tudo. Tinha tido um relacionamento muito sério (para ela) com um camarada muito valoroso e valioso. Foi sua companheira durante uns anos. Por isso a conheci bem. Mas Lisboa é um "penico". Tudo se sabe. Por volta dos anos 72/73 o referido camarada colocou ponto final na relação. Foi um fim de festa muito conflituoso. O perigo é que ela sabia muito, sabia de mais, quanto a mim. Lá a aturei umas vezes com queixas muito fortes do seu ex. Passados uns tempos (já em janeiro/fevereiro de 74) e numa visita a uma messe militar quem é que eu vejo: a "nossa amiga" bem enrolada com um oficial da marinha (dos do piorio). Ela não me viu. Soube na altura que os dois estavam numa relação bem activa. Muitos dos danos a nós causados (nomeadamente a queda da Aginter Press) no pós 25 a ela se devem (não tenho a menor dúvida).
Num dos primeiros dias em que estávamos a reorganizar-nos aparece a boa da pequena. Muitos beijinhos. Disponibilidade total para colaborar connosco contra os comunas, etc. Lembro-me bem. Estava junto de mim o Delfim (que também sabia da história). Logo vi ali uma oportunidade de ouro. Disse-lhe logo que eu não queria fazer nada, que aderia à nova situação, só combate ideológico e combate esse muito democrático, que já tinha perdido as veleidades da juventude, etc. Tudo isto era também confirmado pelo Delfim. Ela bem insistiu, disse saber onde estavam armas, e nós uma vez mais "horrorizados" com isso dissemos que não queríamos ter nada a ver com isso. Que o melhor era deitar tudo isso ao rio, etc... Caiu que nem uma patinha. (E não só... fomos tão convincentes que dois outros camaradas que nos escutaram lançaram logo a notícia que quer eu quer o Delfim tinhamos rachado...). Peguntei-lhe então se sabia de alguém que tivesse um projecto mais "de diálogo", mais "democrático", menos "conflituoso" que os federalistas que começavam a dar os primeiros passos. Logo ali me disse que o Dr. Cruz Rodrigues estava a movimentar-se, e que ele era o tipo de pessoa que se encaixava nos meus desígnios. Agradeci-lhe profusamente e nunca mais a vi. Ficou a espiar os da spinolagem. Deve ter pensado que eu não constituía qualquer perigo, que era mais um cobarde convertido, como tantos foram.
Daí o meu aparecimento na reunião dos Olivais que ACR descreve. (segue...)
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