O nonas (extraordinário Amigo) num postal de ontem resolveu declarar que eu tinha aberto o livro de memórias.
Esse é o problema:
Abro não abro? Já ou mais tarde?
Não sei! Acho tudo isso muito prematuro. Há muita gente viva e "bem colocada".
Prefiro ir contando pequenas aventuras, prestando algumas homenagens, o resto o tempo ditará.
Hoje vou homenagear um Homem, grande Pintor e Artista Plástico, que dirigiu a minha "evacuação" para Espanha.(Não cito o seu nome a pedido expresso da família).
Mas contemos um pouco da história: No 28 de Setembro sairam de Portugal, a salto para Espanha, largas centenas de camaradas e de outras pessoas. Essas passagens deram origem a algumas cenas caricatas e perigosas que poderiam ter posto em causa a vida e a segurança de tantos e tantos bons camaradas.
Foi então decidido fazer uma organização que se responsabilizasse por esse sector. A sua direcção foi atribuída a um grande Artista português que (para além das suas capacidades organizativas e conhecimento profundo das fronteiras continentais) tinha a seu favor o facto de ser praticamente desconhecido do mfa e pc.
E como ele trabalhou bem!
Quando fui confrontado com a informação (de fonte muito segura) que a minha prisão estava por dias pude contactar com a organização. Nunca vi tanto profissionalismo. Em menos de 48 horas estava em Espanha. E tudo, mas absolutamente tudo estava perfeito. Eu sabia que havia gente do mfa muito interessada em "falar comigo" por isso avisei a organização desse facto visto poder colocar em risco todo o sector. O nosso Homem não se preocupou e assim parti eu de Lisboa da zona da Av da República no dia 27 de Maio logo de manhã. Recordo a propósito um pensamento que na altura me ocorreu. Tinha sido naquela rua que eu doze anos antes tinha entrado, pela primeira vez, na sede do Jovem Portugal para aí conhecer o Zarco e iniciar a minha militância política.
Bom o resto é história. Passei calmamente a fronteira. Do outro lado - para além do Rodrigo Emílio e de um "bloguista que anda muito arredio dos postais" estava o nosso Pintor ao volante do seu carro para me conduzir a Madrid e a 16 longos meses de Exílio "à lareira de Castela". Mas isso são já outras histórias.
NB: os "Homens" eram tão profissionais nas evacuações que (segundo ouvi) até fizeram uma de avioneta!
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