quarta-feira, julho 11, 2007

A modernidade face à Tradição

ou o confito ocidente - oriente

No passado Sábado publiquei um postal em que me referia a Guénon e à crise da Tradição numa sociedade moderna. No final do texto Guénon concitava-nos a "meditar neste assunto com um pouco de profundidade e todos os que ainda são capazes de reflectir devem ser convidados para o efeito".

Apesar das minhas enormíssimas limitações quero também reflectir um pouco sobre este assunto.

Parto de uma permissa (para mim) absoluta:

O que faz a força de qualquer civilização e que lhe dá a legitimidade e a justificação é o da sua relação com o Espírito de onde emana a Espiritualidade.

O Ocidente cristão já não existe. O actualmente chamado Ocidente é moderno ou pós - moderno. É a civilização do frigorífico e do bidé (como lhe costumo chamar), ou seja dos prazeres do corpo e da carne.

Por outro lado o Oriente Maometano encontra-se partilhado entre a "modernidade ocidental" (imposta e não sentida na generalidade) e a sua própria Tradição. E aqui tradição engloba o modo de vida, a prática quotidiana e as manifestações de cultura, bem como as sociológicas. Aqui assiste-se efectivamente a uma espécie de tensão entre o mundo moderno e o mundo tradicional. Esta é uma verdade nos países muçulmanos (mesmo os laicos, como a Turquia e sobretudo no estado muçulmano da Europa, onde é bem visível)

O 11 de Setembro veio acicatar ainda mais as desconfianças mútuas e o modo absolutamente cavernícola como os EUA e os seus mais fiéis parceiros europeus lidaram com o assunto foi fatal. Ou seja vamos transformá-los todos em Ocidentais (democracia, direitos do homem e a parafernália do costume), quer eles queiram quer não. Nem que seja à bomba.

Esta etapa suplementar de enfrentamento entre o Ocidente e o Oriente típica dos interesses económicos e geo estratégicos (e petrolíferos, claro) foi levada a cabo por um grupo de indivíduos que de tal modo imbuídos das ideias que pensam serem únicas (e sem sustentabilidade na Tradição ou na História, revelando um total analfabetismo cultural) que nem sequer pensaram ou equacionaram as consequências dos seus actos. O saber milenar, fruto de muito trabalho de muitas gerações é perfeitamente substituível por umas ideias avulso aprendidas (à pressa) nas universidades de Harvard ou Independente.

Porque o facto mais importante (que nem sequer foi equacionado pelos decisores ocidentais) é que hoje existe um enorme Islão Europeu. Os avisos de Guénon, Massignon, Henty Corbin ou de Nadjm oud-Dine Bammate (sem nos esquecermos dos pensadores nacional socialistas e do próprio diálogo proposto por Hitler ao mundo muçulmano) cairam em saco roto. As ocasiões falhadas de um diálogo oriente - ocidente levaram a uma desconfiança mútua bem difícil de ultrapassar.

Mas hoje, fruto das políticas dos países europeus do "sistema" temos um Islão europeu poderoso, e com a perfeita noção da sua força. A erradicação desse Islão só conseguiria ser feito pela força das armas numa Europa dos mercadores sem qualquer vocação (ou melhor dizendo sem qualquer vontade) bélica.

Como resolver este problema. A Europa Ocidental não tem condições (nem capacidade de vontade ou militar) para participar num Choque de Civilizações.

A única oportunidade para a Europa é ( e até o actual sistema cair de podre - já faltou mais) procurar (como Guénon) um encontro de espiritualidades no sentido, por exemplo, de Toledo (Thule - do, como lhe chamava Rodrigo Emílio) do final da Idade Média europeia.

Porque não nos esqueçamos que só a colaboração de Homens de Valor e Tradição poderá impedir o declínio completo desta Europa que já foi rainha e hoje não passa de uma rameira que arredonda os seus fins de mês deitando-se com quem lhe apareça à frente com meia dúzia de tostões na mão.

O caminho dos Valores e da Tradição é pois o único que (neste momento e situação) nos resta. Tudo o mais é pensar em formar um quadrado de irredutíveis prontos ao sacrifício final.

Ou seja (e em linguagem mais simples): estamos feitos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Dá gosto cavalgar o tigre...mas por vezes nem sempre temos o estofo e o distanciamento necessário para o fazer.

legionário