Como já bastas vezes referi as memórias são como as cerejas. Puxa-se por uma...
Quero hoje falar-vos de Leocádio. Homem pobre, honrado, de uma fidelidade total aos seus princípios. Legionário desde 1934 participou na Cruzada desde os primeiros dias.
Com a reforma não se esqueceu dos seus princípios participando sempre em todas as acções mais musculadas dos camaradas espanhóis. Conheci-o (nos meados dos anos 60) em Aluche, nos arredores de Madrid, apresentado por um camarada português José Tugnon Correia, antigo combatente (na força aérea) em Espanha e na Finlândia (lutando contra os bolchevistas). Era exactamente como o Leocádio. Sempre pronto e sempre fiel.
Na altura que cheguei ao exílio em Espanha procurei-o. Logo me atendeu e passou a dar todo o seu empenho para ajudar os portugueses. Como vivia junto dos quartéis de Campamento e se dava com os sargentos de muitas unidades logo nos propiciou os contactos necessários. Também nos trouxe ao contacto com o jovem Carlos Garcia, ex-paraquedista que - também ele - nos foi muito útil.
Aliás eram impressionantes - em Espanha - os poderes paralelos. Se do Governo de Franco não havia apoio explícito(antes pelo contrário), havendo apenas tolerância, dos sectores informais houve apoios que não poderemos esquecer. E sem que a própria polícia espanhola se inteirasse de nada. Só assim se explica, por exemplo, que esses poderes paralelos tivessem organizado (muito mais tarde e já em democracia), nas barbas do poder político e policial, o plano de eliminação do assassino de Carrero Blanco, que um dia vos contarei.
Pois o nosso Leo (para os amigos) era um homem das arábias. Nunca esquecerei que um dia, em Lisboa, em 1977, ouvi no noticiário as notícias do assassinato de um General do Exército.
Poucas horas depois eram abatidos 5 advogados do Partido Comunista espanhol na Calle Atocha. Parecia e dava a ideia de uma retaliação. Não foi assim, mas que parecia, parecia.
Logo pensei: os únicos capazes de fazerem isto, de uma forma tão rápida, é o pessoal do grupo do Leocádio e do Carlos. E para mim guardei esses pensamentos.
Uns dias depois ei-los presos e responsabilizados pelo atentado. Leocádio, foi condenado por ter propiciado o armamento para o atentado. Morreu pouco depois de sair da cadeia, com um cancro. Não o esqueceremos.
3 comentários:
"Poucas horas depois eram abatidos 5 advogados do Partido Comunista espanhol na Calle Atocha. Parecia e dava a ideia de uma retaliação. Não foi assim, mas que parecia, parecia"
Caro Sr. José Carlos, ao ler isto recordo-me de já ter lido ou ouvido qualquer coisa sobre este caso!? Será que me podia avivar um pouco a memória...chegou a ser reivindicado por algum grupo?
O meu obrigado
Legionário
O caso dos advogados de Atocha foi um acontecimento ocorrido em 24 de Janeiro de 1977, à noite, quando 3 operacionais atacaram o escritório abatendo 5 advogados do Partido Comunista, que pouco tempo antes tinha sido legalizado pelo sr. Adolfo Suarez, primeiro ministro em exercício.
Nessa manhã os GRAPO, da extrema esquerda tinham feito um atentado contra um General do Supremo Tribunal Militar, Emilio Villaescusa Quilis.
Daí os meus pensamentos sobre retaliação.
O caso tinha a ver com a luta sindical em que o PC tentava desmantelar e ocupar o importante sindicato nacional dos camionistas em que a Falange dominava. Os 5 advogados estavam a preparar o assalto ao Sindicato.
É tudo do que me recordo. Espero que lhe baste.
Mais uma vez obrigado
Legionário
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