terça-feira, agosto 21, 2007
O nosso muito caro Amândio César
Vou-vos falar hoje um pouco do nosso Amândio César e refutar (por ser testemunha directa) uma das acusações que lhe é feita pela nossa esquerda catita. A saber: Amândio César é o responsável do assalto à Sociedade Portuguesa de Escritores. Assim, tal e qual.
Mas eu conto:
Em 21 de Maio de 1965 a Sociedade Portuguesa de Escritores, presidida por Jacinto Prado Coelho, atribui um prémio literário a Luandino Vieira, nome literário do português de origem e independentista angolano, José Vieira Mateus Graça, pelo seu livro Luuanda.
A atribuição do prémio (de cariz nitidamente política - que não literária) gerou uma forte comoção em Lisboa. Luandino era um militante comunista, filiado no MPLA. O júri de que faziam parte elevado número de escritores do aparelho "intelectual" do PCP (os pequenos e médios intelectuais, como na altura se dizia) decidiu, por maioria, atribuir o prémio - um dos mais prestigiados em Portugal e, até à data, sempre entregue a personalidades de esquerda ou de direita, mas com méritos artísticos firmados, ao escritor (e preso político) do MPLA. Estávamos em guerra e o MPLA continuava a chacinar portugueses de todas as etnias.
Amândio César - o primeiro a ensinar-me que não há escritores de direita ou de esquerda, há sim bons e maus escritores de todos os lados da barricada, reage publicando um artigo em que condena veementemente a atribuição do referido prémio. Também de imediato lança uma campanha entre os confrades escritores para a realização de uma Assembleia Geral que destituísse os corpos sociais da SPE. Os escritores Joaquim Paço d'Arcos e Luís Forjaz Trigueiros, em protesto, chegaram a pedir a demissão da sociedade. Jacinto Prado Coelho (Presidente da Sociedade) demarca-se da atribuição do prémio...
É então que um grupo de algumas centenas de jovens resolve assaltar e destruir a SPE. Eram jovens e não pides conforme anos mais tarde Urbano Tavares Rodrigues (do sector intelectual do PCP) diria. Toda a SPE foi destruída com excepção da Biblioteca e dos quadros dos escritores nela expostos. Dias depois Galvão Teles assina o despacho a extinguir a SPE.
Bem e agora voltando à história. No dia seguinte quando entro no Aviz vejo o nosso Amândio com cara de caso. De chofre perguntou-me: fizeste parte daquele grupo de vândalos que destruiu a Sociedade? Não lhe respondi, porque ele me não deu tempo. Começou com uma catilinária sobre os excessos dos jovens, que o que eles tinham feito era um disparate. O que os salvava era não terem destruído a biblioteca, etc... etc...
Durante uns bons tempos e sempre que o assunto se propiciava lá vinha ele falar dos energúmenos que tinham destruído a SPE que ele estivera a ponto de assumir (para o nosso lado) a sua direcção. Que os jovens tinham de pensar em vez de fazer disparates, que o PC e os católicos progressistas franceses só falavam do ataque o que muito prejudicava Portugal, etc.
Um dia disse-me mesmo. Se eu sei que participaste no assalto nunca mais te falo!
Pois foi a este Homem que a esquerda acusou de ser o instigador do assalto à SPE. É falso. Eu ouvi dele coisas horrendas. E como me custaram!
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