segunda-feira, agosto 06, 2007

Para acabar com a história do MPP

Acho que já gastei tempo mais do que suficiente com este tema. Prometi-vos falar do "mau da fita" e é disso que hoje me vou ocupar.

Na reunião inicial do MPP estiveram presentes, para além de mim e da Maria J.,algumas pessoas das quais me recordo de Galamba de Oliveira, Gama Ochoa, José Vaz Pinto, José L Pechirra, Adelino Felgueiras Barreto, António da Cruz Rodrigues, José Bayolo Pacheco de Amorim, Nuno Abecassis, Fernando Meira Ramos, Rückert Moreira e Pedro Rocha. Posteriormente e já passava das 22,30 chegou o "o outro".

Mas quem era o "outro". Chamemos-lhe "pêpê" (o seu nome de código). Era um jovem que aderiu aos meios nacionalistas ainda no tempo de Salazar. Graduado da MP e da Milícia veio a colaborar com diversas organizações nacionalistas da época. Tratava-se de um jovem com (digamos) alguns comportamentos pouco ortodoxos(não sou entendido na matéria pelo que me abstenho de os caracterizar). Sempre assim o conheci e sempre o aceitei assim. Não tinha e não tenho nada a ver com as características das pessoas.

Bom adiante... Um dia jovem Alferes Miliciano foi mobilizado para a Guiné. Ia cheio de ideias e ideais. Spínola tinha convidado anteriormente uma série de elementos ligados aos meios nacionalistas para a sua equipa de propaganda. Zé Vale, Sá Pessoa, etc. O pêpê ia integrar a equipa.

Passado cerca de um ano reencontro-o em Lisboa. Furibundo. De férias no meio da comissão queria alertar tudo e todos da traição que grassava na Guiné. Relatou-me(nos) coisas do arco da velha, com nomes, locais e datas. Tudo muito detalhado. Os nomes dos traidores estavam lá todos. Referiu que perante tudo isto se tinha rebelado e como tal tinha ido malhar com os ossos na zona de combate. Não que isso o preocupasse muito (honra lhe seja), mas sim porque assim a coisa ia acabar mal.

Minha culpa (e não só). Como ele por vezes era um pouco exagerado não lhe demos o crédito que sem dúvida merecia. Aliás eu próprio quando assisti em Moçambique a umas cenas semelhantes percebi lindamente tudo e bem arrependido fiquei de não lhe ter ligado.

Bom regressemos ao 25 (convém lembrar que o seu irmão era do mfa...). Logo o "pêpê" começa a aparecer um pouco por todo o lado com uma militância desenfreada, ligando-se a tudo e a todos. Jovem advogado (recém licenciado) invocando ter sido o primeiro a desmascarar a traição da Guiné, mexia-se de forma frenética em sítios inimagináveis. Conseguiu ter acesso a militares, políticos, banqueiros, etc. A sua capacidade de convencimento das pessoas era notável. Eu que o conhecia bem afastei-me o mais possível dele (não porque o julgasse um traidor infiltrado, mas por uma questão de segurança, visto ele se estava a expor muito).

Antes do 11 de Março coincidi, por acaso, numa reunião de pessoas a sério e muito espantado fiquei de o ver lá. Afastei-me logo, foi a minha sorte...

Corriam então em Lisboa informações desencontradas sobre o nosso homem. Que era um provocador, que era um bufo, etc. Cheguei a receber perguntas concretas sobre ele vindas de Espanha. Mas sempre respondi de acordo com o que pensava.

A verdade é que a seguir ao 11 de Março não fui de cana e se ele fosse o tal bufo de que se falava teria ido de certeza... Adiante.

E eis-me chegado ao dia 29 de Maio de 1975. Na véspera tinha passado a fronteira (a salto). Encontrava-me em Madrid onde aguardava por Rodrigo Emílio. Recebo uma visita de diversas pessoas que conhecia (uns mais do que outros) que logo me começaram a "interrogar" sobre as minhas relações com o tipo. Lá fui respondendo sem grande interessa visto pouco (ou nada) ter a ver com aquela gente. Até que o caldo se entornou. Um deles ameaçou-me de morte, falando-me duma corda de piano à volta do meu pescoço e coisas do género. Bem é preciso esclarecer que eu na altura tinha muito (mas mesmo muito) mau feitio. No entanto como era importante (antes de resolver esse problema) estar com o Rodrigo lá me aguentei (conforme pude) sem estrilhar o suficiente. (depois eu conto o desenlace desta historieta...).

Poucos dias depois sou interrogado exaustivamente pela polícia espanhola também sobre ele. Contaram-me coisas do arco da velha (desde ele ter estado em Badajoz a tirar nota das matrículas dos carros dos portugueses, até sei lá...). Lá expliquei detalhadamente aquilo que eu pensava ter ocorrido, as características do rapaz, etc.

Ainda fui chateado mais duas ou três vezes sobre este homem. Mas a verdade é que ninguém (que eu saiba) que tenha partilhado com ele alguns segredos foi de cana ou sequer interrogado sobre matéria em que estivessem os dois envolvidos.

Depois de tudo ter passado e cada um tentar refazer as suas vidas o nosso "pêpê" continuou igual.

Ou seja gastou-se, quanto a mim, tempo a mais com ele. E ACR acusa-o de ser um elemento provocador (no mínimo). Aí ele tem razão. Mas era pela sua maneira de ser e estar na vida...

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