Aqui pode ler um óptimo postal do Nova Frente. Recomendo-o vivamente.
Quero apenas dar uma achegas.
O Diário de Lisboa Juvenil, sob a orientação e responsabilidade de Mário Castrim (sim, ele próprio) tinha a partir dos anos 60 uma página destinada a jovens poetas e em que muitos e bons jovens publicaram as suas primeiras letras. Rodrigo Emílio foi um deles. Lembro-me que Castrim bem louvou o nosso Rodrigo pelo poema enviado. Era um trabalho de grande mérito o de Castrim. (aqui revelo um segredo: até eu - um dia - enviei para lá um poema que ele publicou. Foi o primeiro e último, visto eu ter de imediato reconhecido que não tinha qualquer qualidade para versejar. No entanto o Castrim gostou, nanja eu...)
Sobre a permanente disponibilidade do Rodrigo Emílio para reconhecer talentos e defender amizades, reconheço que o grande causador disso foi Amândio César que sempre nos demonstrou que o talento e a qualidade nada tinha a ver com as orientações ideológicas de cada um. Se o autor é bom, é bom. Ponto final. Era a sua máxima. Recordo, por exemplo, que um dia Amândio me mandou ler dois dos seus escritores favoritos - Brasillach e Curzio Malaparte. Um de direita, outro de esquerda. Fiquei fascinado. E ele disse-me que o importante era reconhecer o talento, o resto era acessório.
Outra achega importante. O caso Ary dos Santos. Ary era mais velho que o Rodrigo uma meia dúzia de anos. No entanto coincidiram poeticamente muitas e muitas vezes. David Mourão Ferreira considerava-os os "poetas da geração" (como ele tinha razão). Rodrigo tinha por Ary uma grande consideração (e vice versa). O nosso Rodrigo chegou-me a dizer que Ary era (em potência) um grande poeta "fascista". Apenas o disparate e a humilhação causada pela homofobia de um chefe de brigada da Judiciária (responsável pela brigada de costumes da PJ) e conhecido legionário o tinha levado para o campo comunista. No entanto a época não permitia brincadeiras e os homosexuais eram perseguidos e humilhados de forma acintosa e desnecessária. Foi o que se passou com Ary, que no fim da sua adolescência teve de sair de casa dos pais após umas peripécias lá na Judiciária.
3 comentários:
Belas achegas, José Carlos. E ainda ficam muitas histórias 'culturais' para contar. Aqui entre nós, só não se percebe a opção de Ary face à humilhação sofrida. Isto porque, apesar de tudo e até certa altura, os homossexuais eram mais maltratados no PCP do que na PJ.
Reduzir uma personalidade complexa e fascinante como Malaparte a "homem de esquerda" é, no mínimo, desadequado. Já agora, a talhe de foice, em "A Pele" o genial escritor dá uma imagem nada abonatória da "internacional homossexual".
Meus Caros:
Sobre Ary é verdade que havia uma grande (enorme) homofobia do PCP (bem revelada no caso do dirigente Júlio Fogaça expulso do seu lugar de proeminente dirigente por desvio sexual). Não nos esqueçamos que após o 25 do 4 os homosexuais tiveram lugar no MDP (barreirinhas) CDE e não no Partido. As razões devem ser encontradas no conservadorismo da sociedade e no papel de Cunhal (ele próprio nado e criado em ambientes altamente tradicionais). Não nos esqueçamos que também os militantes com problemas de alcóol (por exemplo Lopes Graça) eram bastante mal vistos pela hierarquia dos comunistas.
As razões da ligação de Ary aos comunas eu penso sabe-las. Mas trata-se de uma área pela qual não desejo entrar. Fofoquices e vida pessoal dos outros não!
Sobre Malaparte é óbvio que é extremamente redutor classificá-lo como "de esquerda". Apenas utilizei a sua auto - classificação como "de sinistra" num depoimento dado à revista Oggi.
A propósito as leituras recomendadas por Amândio César foram "A noite de Toledo" de Brasillach (a melhor história erótica que li em toda a minha vida e que destroi completamente o mito da homosexualidade do martir de Fresnes que a esquerda lhe tentou impor) e o "fuzilamento dos fascistas" de Malaparte, a mais bela descrição da morte heróica e militante que também li. Nunca ninguém o ultrapassou na definição de um fascista prestes a morrer!.
A propósito (ainda): uma das características do Rodrigo Emílio é que ele não via defeitos nos "nossos". Não era um moralão. Aceitava (embora lhe custasse - como também a mim) todos os comportamentos mais desviantes dos nossos camaradas. Eu não sou, nem era tão liberal. Mas enfim, também não me considero um moralão.
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