quinta-feira, outubro 18, 2007

Na morte de João Coito

Deixei passar uma semana sobre a morte de João Coito para, com certo distanciamento, poder escrever alguma coisa sobre ele.

Nunca privei com ele. Trocámos meras palavras de circunstância umas quantas vezes na vida. Para mim – e para a minha geração Coito foi acima de tudo o homem que ajudou – e sobremaneira – a lançar e consolidar Marcelo Caetano como novo homem do leme no barco à deriva em que se transformou Portugal (desde aquele 27 de Setembro). Lembro-me de (na época “marcelística” lho ter dito assim (na cara) e “tal e qual”. Afinou e disse que eu estava profundamente errado.

Depois disso apenas o revi nalgumas situações de morte de alguns amigos e conhecidos. Cortês, e delicado como era, sempre me saudou com a verdadeira bonomia de um Homem civilizado, educado e crente.

Também se diga que nunca fui um especial adepto do jornal “O Dia” quando ele o dirigia. Coisas há que são difíceis de deixar para trás. Compreendia a sua bondade nos editoriais que ia escrevendo (com o brilhantismo do pensamento e da língua pátria sempre presentes), mas ele por vezes (muitas vezes) exagerava!

No entanto, mudei muito de opinião com a morte de Rodrigo Emílio. João Coito, na Missa de Sétimo Dia veio ter comigo e falou-me com o coração nas mãos. Do que me disse – em privado – guardo tudo e comovo-me a recordá-lo. A partir desse momento João Coito passou a ter para mim um lugar de relevo na minha consideração.

E a verdade é que a partir dessa infausta data João Coito várias vezes se referiu ao nosso Rodrigo Emílio, citando-o amiudadamente. Essa sua atitude em relação a um “ultra anti-marcelista” calou-me profundamente na minha alma.

Era um cavalheiro num “país” de carroceiros. Aristocrático de alma e de porte nunca seria bem aceite num mundo em decomposição. A última que lhe fizeram (típica dos dias de hoje) foi a recusa de o homenagearem (na data em que fazia 50 anos que entrara como jornalista no Diário de Notícias). Honra a quem propôs a homenagem – José António Santos – desprezo e nojo para quem impediu o gesto – o então director Mário Bettencourt Resende.

Expulso do Diário de Notícias em 1975, vítima da troika comunista constituída por Luís de Barros (ex - Jovem Portugal, que depois migrou para o PC), Saramago e Mário Ventura Henriques, nunca a eles se referiu com ódio, mas sempre com a condescendência cristã que sempre praticou.

Há e houve poucos Homens como ele!

Apostilha: Jornais houve, como o Público, que nem umas meras 4 ou 5 linhas lhe dedicaram na data da sua morte. É típico e banal neste “mundo cão”!

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