segunda-feira, outubro 01, 2007

BRASILLACH E A SUA OBRA – 1/8

Henry Clouard na sua Histoire de la Littérature Française — Du symbolisme à nous jours, II volume, no qual estuda os movimentos literários de França de 1915 a 1940 — tem este parecer sobre Robert Brasillach que me parece oportuno transcrever pois que, embora discutível pela severidade, tem um raro poder de sintetização de uma obra longa e diversa:
“Les dons de Robert Brasillach furent tout d‘abord d‘un chroniquer fin, curieux, ingénieux et frais; ils triomphent dans les mémoires qu‘il a laissés de sa jeunesse d‘étudiant et d‘écrivain débutant, cabri gambadant à travers Paris sur lequel régnait Ludmilla Pitoëff (Notre Avant-Guerre,1941). Ils se sont durcis vers la fin, dans une presse controlée par les Allemands: alors se sentit chez Brasillach une force surprenante et mal employée d‘écrivan de combat. Il ne fallait pourtant pas condamner à mort ce garçon d‘avenir. Quels sont ceux que son visage ne revient pas obséder? Il était en progrès dans le roman, de Voleur d‘Etincelles à Comme le Temps Passe (1937), quoique n‘arrivant pas encore à se dégager de la chronique ou du tohu-bohu d‘intentions. S´il avait la poésie trop facile et si ses poèmes de prison n‘en font qu‘un faux Chénier, qu‘il a été brillant en critique! Certes, Présence de Virgile (1931), Portraits (1935), Corneille (1938), veulent trop tirer l‘oeil et abusent de l‘anachromisme un étonnant brio, mais ses recueils de chroniques littéraires Les Quatre Jeudis, montent au niveau de ses recueils de souvenirs. Une culture extraordinairement nuancée les porte, une curiosité les anime qui a l‘ivresse du départ en vacances. Il ne leur manque qu‘une parfait maturité. Et tout cela est a redire des études sur Les Animateurs de Théatre (1936)”.
Nem tudo será de aceitar sem discussão neste juízo que, no entanto, se me afigura isento de paixões. Mas ocorre-me dizer que o autor em questão — ainda que prestando justiça à presença de Brasillach na literatura francesa dos nossos dias — teve em conta uma obra terminada quando Brasillach foi obrigado a terminá-la sem revisões de maior diante de um pelotão de execução. E isso torna as coisas bastante diferentes se tivermos em conta que o inacabado ou o não revisto nasceram fora do escritor, mas atingiram-no e à sua obra passada. De qualquer forma, serve para revelar o interesse — não despido de riscos — perante um escritor maldito, isto para não me servir do denominador comum de Saint-Paulien. Devo acrescentar ainda que me pareceu curta a citação à obra do romancista, que na bibliografia de Robert Brasillach ocupa um lugar destacado e que mereceu outras referências mais largas exactamente por causa da originalidade que a sua obra romanesca comportava. Essa obra começara em 1932 com Voleur d´Étincelles e prolongar-se-ia, seguindo o curso da vida e da história do seu tempo, até Six Heures à Perdre, romance póstumo que apareceu em 1953. Neste espaço de tempo, Robert Brasillach escreveu mais cinco romances que são tão importantes na definição de uma arte literária como ainda num debate de ideias a que o autor nunca se recusou. Eis porque a quinze anos de distância do seu fuzilamento venho ocupar-me dessa obra de romancista, certo de que ela é quase desconhecida entre nós, se exceptuarmos o círculo de amigos portugueses que o leram, o admiraram e que por isso seguiram o seu calvário até ao fim. O grande público nacional deu — se é que deu — pela sua Histoire de la Guerre d‘Espagne escrita de parceria com Maurice Bardèche e traduzida por Ferreira da Costa; ou então, pelo seu romance Comme le Temps Passe aparecido há uma escassa meia dúzia de meses na versão nem sempre brilhante de Paulo Santa Rita. Ora, o que interessa é falar-se verdade, apenas verdade, sobre este romancista, pois isso basta também para o Brasillach crítico e literário, estudioso dos clássicos ou historiador do cinema, poeta ou jornalista. Em todos estes sectores ele se realizou e cada um deles pode dar margem a ensaio substancial, tanto mais necessário quanto é certo que nos abafam debaixo de infravalores — atitude muito de ter em consideração quando se usa e abusa da espantosa incultura das gerações mais jovens —. Ora, Brasillach foi um escritor para a juventude. Ele próprio morreu jovem após uma luta que sustentou sem desfalecimentos contra as forças secretas ou não secretas, mas sempre revolucionárias, que o haviam de levar até ao poste da execução, forma única de calar a sua voz, o seu exemplo, a sua inteligência, a sua arte, a sua integridade moral. E vai já sendo tempo de reagirmos: sobretudo contra as sistemáticas e bem dirigidas campanhas de silêncio, cujo objectivo é tão claro que nem vale a pena mencioná-lo.

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